eu tenho pensado muito em como agir em relação à doença da muriel. no momento é só reação, mesmo. ação -> reação. veterinários, exames, soro, remédios. eu reajo às situações. Agora eu quero agir.
tenho me esforçado muito em não cair na armadilha de "aimeudeus, Muriel tá morrendo" e atrapalhar a vida dela. Tento manter a rotina do jeito de sempre, não sobrecarrego a Muriel de cuidados e tento não superproteger. Ela gosta de ficar na caixa, de ficar na dela. Não é e nem nunca foi de colo. Acho que minha função mais importante é de não atrapalhar. Ela tem as comidinhas que gosta, a caixa para dormir, o borrifador de água que uso para afastar Jean-Luc quando ele cisma de encher a sua paciência.
Eu não quero que, de alguma maneira, ela sinta que eu a trato diferente. Não sei como os gatos funcionam; nem sei como eu mesma funciono, vamos deixar bem claro. Mas sei que gatos têm um tipo de sensibilidade que não consigo explicar, mas sei que existe. E se ela perceber que eu passei a tratá-la como uma coitadinha, tenho certeza de que irá reagir mal.
Eu presto atenção e tento ajudar. Nesta semana, ela começou a interagir melhor com a família, permite que Lara, Carol e Bijoux se deitem com ela no cobertorzinho novo que comprei. Até Jean-Luc, em alguns momentos, se comportou e os dois ficaram próximos, sem fsss nem xingamentos.
Claro que há momentos em que me sinto de mãos atadas; outros em que me sinto falhando com ela, por permitir que a doença avance sem que a operem ou façam a quimioterapia. Mas tudo isso foi pensado e repetido aqui tantas vezes! quero qualidade de vida para ela, não quero que ela passe por terríveis pós-operatórios que não solucionarão nada. Quero uma vida legal para a minha gatinha. E amigos me falam de gatos desenganados que estão aí, miando satisfeitos da vida. Quem me garante que Muriel não possa ser um deles?
Tenho medo, claro, tenho um universo de medos. E sei que cedo ou tarde vou me culpar pela morte dela, e ter certeza de que uma pessoa mais precavida teria percebido antes a doença, tomado melhores providências, feito um milagre, talvez. Mas aí eu me lembro que Muriel está comigo não porque espera uma pessoa perfeita, e sim uma pessoa que a ame.
e aí meu coração sossega.
por pouco tempo, mas sossega.