eu me considero razoavelmente bem resolvida quanto à minha diabetes. Mas tem momentos em que baixa em mim uma criança mimada de dois anos dando um escândalo da-que-les. E isso geralmente tem hora e lugar marcados: quando eu vou ao supermercado e passo pelo freezer de sorvetes.
Nessa hora eu tenho vontade de gritar, espernear, me jogar no chão. Não faço nada disso, claro, que eu não quero ser internada. E não tomo o sorvete também, óbvio, que eu não quero mandar minha saúde para as cucuias e meu nível de glicose para a estratosfera.
Então eu olho com os olhos, lambo com a testa, dou um suspiro resignado (resignado é o termo exato) e sigo frustradíssima o resto do dia.
Falei isso pro doutor baby-face e ele prometeu que um dia, quem sabe, me libere para fazer uma extravagância dessas. mas por enquanto não. um dia.
Um dia, pois é. um dia eu ganho na sena. um dia antonio banderas bate na minha porta, diz que me ama e me seqüestra sem que eu possa nem dizer tchau pros gatos e nem trocar a minha mudinha véia de todo dia. um dia. um dia eu me jogo naquele freezer e tomo todos os picolés de brigadeiro que vir pela frente. todos os tipos de cornetto. todos os miwwi. cada um dos sabores. o picolé do bob esponja. um dia. um dia.
e eu sigo, resignada, adulta e centrada, mais um dia de calor sem picolé.
oh, vida.
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