98 Telinha e seus gatinhos

no dia que eu me zangar
mato voce de carinho

Ze´ Limeira

24.10.07

a chuva cai lá fora, você vai se molhar


seis e meia da manhã toca o despertador.
amado marido tem consulta na nutricionista às oito. pediu para eu botar o despertador para esse horário insano. botei.
tocou, acordei, acordei ele, levantei, fui no banheiro, dei papá pros gatos, preparei o suco e a vitamina c de amado marido, fui lá chamar ele de novo, limpei o banheiro dos gatos, comi uma coisinha, fui chamar ele de novo, troquei de roupa, escovei o dente e fui chamar ele de novo.

ele levanta, entra no banheiro, eu dou comida pro peixe e remédio pro gato.

ele resmunga, eu venho pro computador.
sete e meia, bora?
não, tá cedo, a gente chega lá em dez minutos.
dez minutos? e pq vc disse para eu botar o despertador para seis e meia?
ah, telinhah. pq eu achei que VOCÊ ia demorar a se arrumar.

chove. pouco, mas chove.

nós dois temos guarda-chuvas, mas só eu abro o meu.
ele vai na chuva. pára o táxi, a gente entra, ele dá o endereço.
"pq vc não usou o guarda-chuva, bebê?"
"pq eu sempre perco"
"mas aí vc se molha!"
"pois é"

engarrafamento. no rádio falam de um canal que transbordou e de carros assaltados por conta do trânsito parado. chegamos na médica. chove a cântaros. amado marido enfia o pé na enxurrada.

demoram a abrir a porta do prédio. a gente se molha ainda mais.
entramos.
oito e dez. oito e quinze. oito e vinte. a médica liga para avisar que tá presa no trânsito. amado marido levanta. eu faço ele sentar.

oito e trinta e cinco. a doutora chega. amado marido vai para a consulta. não me deixa entrar.

nove e meia. amado marido sai da consulta. a médica ri. disse que a consulta foi pela metade, ele precisa voltar depois. eu não entendo nada, ele diz que me explica mais tarde.

saímos, chove prá c* saltitantes.
andamos na chuva, dessa vez cada um com seu guarda-chuva. meu tênis tá velho, eu ando mais devagar para não escorregar por conta da sola lisinha.
paramos um táxi, entramos.

primeiro deixo ele no trabalho e depois sigo pro supermercado. este é o plano original.

meia hora parados no trânsito, o plano muda. assim que a gente chegar na rua tal, eu desço, pego outro táxi e vou pro supermercado. ele segue pro trabalho.

ligo para a tia de amado marido. perpétua trabalha lá e nas quartas vem para cá. peço para ela segurar perpétua em casa até eu chegar.

desço na rua tal e enfio o pé até o calcanhar na água suja da rua. não tem rua, tem rio. cada carro que passa é uma onda. eu xingo puuuuuuuuuuuuuuuuuuuta que pariiiiiiiiiiiiiiu bem alto. amado marido dá tchau do carro.

eu ando no meio da água suja. eu fico com medo de pegar lepistopirose. lepstopirose. aquela doença do xixi do rato. a febre bobônica. dengue. mau-olhado.

no caminho, eu vejo um supermercado. mudo o plano de novo, entro nele, os pés fazem splosh nos tênis enxarcados. eu sublimo. eu faço as compras. eu - rá! - compro sorvete.

um destino cruel me aguarda. são onze da manhã. lancho num quiosque da casa de pão de queijo.

vou para o ponto de táxi que tem no supermercado. nenhum táxi à vista. muitos clientes, com seus carrinhos de compra, conversam sobre o caos que está a cidade. o túnel rebouças fechou. isso já significa grandes problemas quando não tem chuva, imagina com o mundo se acabando do jeito que está.

meio dia. um povo conversa animadamente do meu lado. estão lá desde as nove e meia, quando o canal transbordou. um rapaz passa e diz que na rua do lado a água bate no joelho. pára um táxi. eu vou falar com o moço. peço gentilmente que ele passe um rádio para a cooperativa mandando táxis lá pro supermercado. o moço diz que não dá para andar na rua e que ele parou lá pq era o único lugar seco. disse que vai esperar a chuva parar e voltar para casa, que não é doido de dirigir com a água em cima da roda.

eu entro de novo no supermercado, deixo meu carrinho no atendimento ao cliente. compro uma toalha de rosto, uma meia, um tênis e um vidro de álcool. no caixa, tênis tá sem o preço. volto na seção, o tênis custa 50 paus. desisto do tênis e compro uma havaiana branca de 15 reau. compro tb a revista glossss para passar o tempo.

sento num banco e faço minha higiene pezal. tiro tênis e meias imundos, passo álcool no pé, esfrego com a toalha. com os pés secos, calço as meias e as havaianas, dobrando bem a barra da calça que está podre para não tocar nelas. basicamente, uma visão do inferno. e eu odeio havaianas, machucam meus pés. o troco do lanche na casa de pão de queijo cai do meu bolso, mas eu só vou notar quando chego em casa. seis reais é pouco, mas faz falta.

descubro, também, que meu pé cabe numa havaiana 33/34. eu jurava que meu pé era 35. enquanto meus pés diminuem, minha cintura aumenta, eis o mistério de nossa fé.

sento num banco, desconsolada. nada de táxi. o povo que conversava sumiu. capaz de ter ido para casa a pé.

uma da tarde. ligo desconsolada para amado marido. ele me passa o telefone de duas cooperativas. peço dois táxis, o que chegar primeiro ganha. "não podemos garantir quando nosso táxi vai chegar, senhora. pode demorar"

leio a revista. gente, é muito ruim. muito. muito mesmo. meu estado de ânimo também não ajuda. penso no sorvete virando suco.

me sinto uma órfã abandonada no meio da tempestade de neve. boto bico. quero minha casa, quero um banho, quero roupa limpa, quero minha mãe.

uma e meia da tarde. uma e quarenta e cinco. um senhor careca olha para mim e pergunta: "táxi?" e eu "sim, por favor!"

ele reclama do tempo. ele reclama do trânsito. ele mostra quatro, cinco táxis estacionados. pergunta dos motoristas. eu respondo que eu falei com todos, mas eles não querem pegar passageiro e nem pedir carro para o supermercado. eu devo estar com uma cara lastimável mesmo. deu vontade de beijar a careca do taxista.

o trânsito tá fluindo maravilhosamente, é claro: quem tem juízo não saiu de onde estava.chego em casa. não sei quanto foi a corrida: paguei vinte reau. deve ter sido oito.

entro em casa. duas da tarde. ligo para amado marido no trabalho. ele, inocente, havia deixado um recado na secretária eletrônica dizendo que chegou e que tá tudo bem. arrumo as compras. ligo para perpétua e digo para ela só vir amanhã.

ligo para fal e conto tudo isso. fal ri. se eu não amasse a fal, matava ela. eu xingo, eu choramingo, eu boto bico, eu acho minha vida o fim. fal manda eu tomar banho, literalmente. eu digo que vou tomar banho, passar álcool no corpo todo. e atear fogo.

bom, não ateei fogo. me deitei. me levantei. vim pro msn. almocei e, ops, esqueci de tomar meu remédio. tomo quando jantar, tomo dois comprimidos, paciência.

é isso. e amado marido detestou a nutricionista e não volta mais lá nem amarrado. e a metade que faltou da consulta foi ele se pesar e ser medido. ele não gostou dela. ele quer nutricionista homem.

é.

14 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Querida, há dias que nem vale a pena sair de casa! beijos

9:14 PM

 
Anonymous Anônimo said...

Achei melhor nem sair ontem....Fiquei quietinha em casa e o supermercado que ficasse p hoje.
E o gatinho tá melhor???

8:37 AM

 
Anonymous Anônimo said...

Putz!!! afff, que dia heim? acho que só valeu a pena depois que você estava lá debaixo do chuveiro tomando aquele banho quentinho!

;-)

9:17 AM

 
Anonymous Anônimo said...

Telinha, ontem descobri que meu gato Vinil Vinículo - o terror dos passarinhos - está com um calombo da cabeça (ali naquela parte que não tem pelo perto da orelha).

Eu passei água oxigenada e nebacetin em cima do calombo (que só tem uma pequena feridinha em cima).

Tô em dúvida se é caroço de arranhado de gato que inflamou (pois é, ele nem parece ser um gato castrado), ou se pode ser berne!!!

Eu até levaria o gatuno para a veterinária, se eu não tivesse de viagem marcada!!! :-(

Telinha, existe algum jeito de saber o que é o quê?? (se é um arranhado ou berne?)

9:24 AM

 
Anonymous Anônimo said...

Tela, meu amor, que dia o de ontem! Eu também saí de casa antes das oito, pra ir dar aula, e chovia, mas nem tanto. Levei guarda-chuva e fui. cheguei na faculdade, a chuva apertou, não apareceu quase ninguém, e na hora de sair, eu tinha obrigatoriamente que passar por uma rua com água pelas canelas. Nunca me senti tão podre. Cheguei em casa e a vontade era jogar o sapato fora e tomar banho de álcool. E isso que eu consegui taxi logo, porque o ônibus me deixa num ponto em que eu ainda tenho que andar um bocadinho (ali onde vc desceu quando veio me visitar) e eu não tava mais aguentando de aflição.
O Rio definitivamente não é à prova de chuva.

10:51 AM

 
Blogger stella said...

ila, corre com o gatinho pro vet.

11:15 AM

 
Anonymous Anônimo said...

Se hoje não diminuir vou dar um jeito de ir hoje em algum lugar... pq amanhã não terei mais tempo! O.o

Ai como é difícil não ter carro...
:_(

3:41 PM

 
Anonymous Anônimo said...

Ai, telinha. eu quase chorei de aflição. Eu tenho PÂNICO de água suja. Eu recomendaria (e faria ni mim) banho com Protex 3 Ultra. E água fervente.

ô se eu pudesse, eu evitava que tu passasse por isso.

3:53 PM

 
Blogger Vanessa said...

Que meleca, Tela, que meleca.
Minha solidariedade, que aqui também não pára de chover e eu passei o dia de ontem todinho de pé molhado e mau humor, além dos espirros.
Beijos.

5:57 PM

 
Blogger Gisa said...

Telinha, perdão mas estou morrendo de rir.
É horrivel agua suja, blargh! E ficar todo esse tempo esperando taxi.
Vc merece uma semana de spa sendo tratada a pão de ló de chocolate feito por alguém competente como vc.
Beijos com amor

7:19 PM

 
Anonymous Anônimo said...

Telinha, consegui resolver o problema do Vinil (bom, eu acho que sim).

Ontem cheguei em casa, liguei no veterinário, fechado, liguei no 24 horas, fechado tbm, liguei na minha tia (por que ela tem carro e poderia me levar para algum outro veterinário), e também não estava em casa!

Peguei o Vinil, tranquei ele no banheiro, peguei água oxigenada e fui passando com algodão naquela bolota, deixava espumar bem, teve uma hora que ele chacoalhou a cabeça e vi o negócio começou a querer vazar! pensei: tenho que tirar todo este pus, por que aí sara!

E aí fui, de algodãozinho em algodãozinho tirando aquele negócio (argh), e depois passei nebacetin para não infeccionar.

O mais incrível é que ele se comportou direitinho! tinha horas que até ronronava! aiii este gato gatuno viu!!!

7:26 AM

 
Anonymous Anônimo said...

Telinha, me perdoe a falta de sensibilidade da sua amiga aqui, mas eu me "esburrachei" de rir.
Perdoa?
Beijo.

8:26 AM

 
Anonymous Anônimo said...

Até achei que você estava em SP, porque ontem aqui também foi o caos: passei 5 horas no trânsito dirigindo rumo a uma reunião que durou 40 minutos. Pelo menos não botei o pé na enxurrada, mas minha bunda tá quadrada até hoje. Quanto ao amado marido, de um desconto :o) eu nunca gosto de ginecologista homem, tem que ser dotôra mulher, vai ver que com nutricionista é a mesma coisa :o)

8:32 AM

 
Anonymous Anônimo said...

Telinha das mãozinhas petiticas,
hoje, a chuvarada foi aqui.
Felizmente, não precisei por o meu pé na água suja.
Mas, olhar ao redor e ver tudo cheio de água, me dá uma tristeza e uma sensação de impotência...
Beijos, querida.

7:03 PM

 

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