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Ze´ Limeira

7.8.04

estou na torcida pela princesa masako.

Família imperial japonesa atravessa crise - Anúncio da depressão de princesa quebra tradição da monarquia
Norimitsu Onishi para o NY Times - em Tóquio


Quando a Casa Imperial do Japão divulgou, semana passada, que a princesa Masako estava sob tratamento terapêutico contra depressão e ansiedade, foi a primeira vez na longa história da monarquia japonesa que houve um real reconhecimento de que faltava algo que muitos acreditam que sempre existe entre príncipes e princesas: a felicidade pessoal.

Até então, os assuntos relativos à felicidade ou à infelicidade pessoal nunca haviam sido tratados oficialmente. Eram irrelevantes, assim qualquer outro tema que não fosse a suprema importância da sobrevivência do Trono de Crisântemo.

A linhagem japonesa precisa prosseguir de qualquer forma. E essa obsessão gerou uma pressão enorme, simplesmente insuportável sobre a princesa Masako. Ela é uma mulher educada em grandes universidades, como Harvard e Oxford, preparada para uma carreira brilhante na diplomacia.

Mas a exigência maior e única era simplesmente a de gerar um herdeiro, o filho do atual príncipe herdeiro.

Há oito meses a princesa Masako sumiu do contato público, e a Casa Imperial negou que algo de preocupante estivesse acontecendo. Até que, na semana passada, a monarquia oficializou com o selo imperial a declaração de que a princesa estava sofrendo de um desequilíbrio provocado pelo stress e que, além de receber acompanhamento psicológico, recebia medicação recomendada.

Por trás da história de uma princesa infeliz que não consegue dar a luz a um príncipe, há uma história maior, a de uma monarquia que luta para acompanhar um Japão em permanente mudança. Até que a família imperial japonesa mudou bastante nos últimos 150 anos. E, diga-se de passagem, toda vez que um novo imperador é coroado no Japão oficialmente começa uma nova era no calendário japonês.

O príncipe herdeiro Naruhito, de 44 anos, deu uma prova de que as coisas mudam na casa imperial japonesa. Foi em maio, num discurso que já é considerado histórico, ainda mais depois de ter repercutido na recente declaração palaciana.

Naquele discurso, o príncipe herdeiro falou da doença e da tristeza sofridas por sua esposa Masako, de 40 anos. "Houve uma intenção", segundo disse o príncipe em palavras que tem sido constantemente reinterpretadas desde então, "de negar a personalidade e a carreira de Masako."As palavras, dirigidas à Casa Imperial, talvez ao seu próprio pai, o Imperador Akihito e à Imperatriz Michiko, portavam a mensagem de que o príncipe não permitiria o sacrifício de sua mulher em benefício do objetivo maior da monarquia."

Na essência, o príncipe herdeiro dá mais importância à felicidade individual do que ao sistema imperial", segundo Takeshi Hara, professor especializado em assuntos monárquicos da Universidade de Gakushuin, em Tokyo.

Até esse discurso, ninguém na Casa Imperial Japonesa havia falado sobre a depressão da princesa. Sofrer em silencio, em benefício da monarquia, era talvez a conduta apropriada na época em que os japoneses se sacrificavam para erguer suas empresas e reconstruir o Japão, no pós-guerra.

A Casa Imperial do Japão, que até há pouco tempo ignorava a depressão da princesa, teve que mudar de atitude após os comentários do príncipe em maio.

Se continuassem a ignorar esse assunto a monarquia poderia sair ferida. Então, para acompanhar a evolução dos tempos, a Casa resolveu admitir o problema com a princesa, até para manter a integridade do Trono. O Palácio, reconhecendo o sofrimento de Masako, agora admite alterar a agenda de funções oficiais da princesa.

Tradução: Marcelo Godoy