98 Telinha e seus gatinhos

no dia que eu me zangar
mato voce de carinho

Ze´ Limeira

5.8.04

crianças, a virose já sarou. e eu estou moída. o dia hoje foi muito cheio e eu acho que estou gripando. mas estou feliz da vida, estou falando com vocês!

então, um breve comentário sobre a semana sem micro:

giorgia, o resumo dos dias unplugged: choro e ranger de dentes. estou mais viciada no micro do que seria de bom-tom admitir. fez uma falta danada na minha rotina.

então luana piovani tá grávida? hm, depois de maria paula, né? agora quero ver o povo dizer que os cassetas não comem ninguém.

e a cicarelli e o ronaldinho? eu sou má, eu não tenho coração. mas vejam se meu raciocínio não é lógico: segundo a imprensa, no comecinho do namoro dos dois, daniela avisou ao seu fenômeno que na primeira pulada de cerca era cartão vermelho para ele. e ele agora quer casar com ela. simples: uma esposa tem muito mais a perder que uma namorada, e ele vai poder galinhar à vontade sem medo dela chutá-lo para escanteio. pq aí ela vai pensar na casa, nas mordomias e na grana que vai perder se separando do rrrrronaldinho.
né não?

amado marido escreveu um texto hilário sobre a porca (aquela). deu uma viajada boa no fim, mas a história é aquela mesma.

abre aspas

Faltava alguém para contar esta historia, quase uma odisséia.
Do passado da porca ninguém tinha a menor idéia.
Porca sim, das grandes, daquelas que só são vistas em fazendas, mas esta em especial morava embaixo de uma marquise, numa praça, no meio de uma rua movimentada, no centro de um bairro, da cidade do Rio de janeiro.
A porca era tão discreta, podem acreditar, que se juntou à paisagem natural do lugar, ninguém mais estranhava sua presença. O escorrega, o balanço, uma fonte para pássaros, a porca, um banco azul, um girador meio enferrujado, outro banco...um aposentado lendo jornal, a porca, pombos, uma babá...
E não era apenas a porca, mas a porca e seus sete rebentos. Não, a porca não era branca, mas cor de orelha limpa. Sabe? Não incomodava ninguém, mas permanecia um mistério para os moradores da vizinhança, que começaram a tomar conta da vida dela. Aonde está a porca, perguntava o barraqueiro de legumes, que veio com um maço de couve. A porca não está na Jacinto Freire? Vi ela ontem, dizia a mulher na banca de jornal.
"Deve estar doente!" disse a empregada lá de casa, se confessando especialista! "Meu pai tinha porcos na nossa casa!" Sem querer me meter nos costumes do povo, fingi que não estava ouvindo enquanto minha empregada teimava. "Porco não fica deitado tanto tempo! Só pode estar doente! De porco eu entendo...que pena eu tenho de bicho! Só pode ter vindo da favela!" Aí entra um aparte delicado sobre o desequilíbrio das classes sociais urbanas. Havendo uma favela próxima, já estava decidido que a origem da porca era a favela. Preconceito? Talvez, mas não estamos aqui para avaliar a procedencia do mamífero em questão.
Durante semanas ouvimos não a porca, mas as lamentações da empregada lá de casa, que omito o nome por razões de direitos não pagos, novamente a tal desigualdade, mas a ciranda já envolvia meus parentes que, sabedores da existência de uma porca na minha rua, e nas proximidades do meu lar, se achavam no direito de sugerir soluções. Os bombeiros, chamaram? Não, a porca não estava em fogo, sequer uma fumacinha...Os bombeiros não tiram gato de árvore? Nos gibis com certeza, mas os nossos posam sem roupa para calendários duvidosos.
Uma tia sugeriu o Ibama. Liguei. A atendente disse que o porco deveria ser selvagem, para despertar o interesse deles. Era? Não parecia. Tinha que ser um membro da nossa vida selvagem. Na Tijuca? A única coisa selvagem na Tijuca são os entregadores de pizza, costurando no transito em suas motos. Então nada feito! O zoológico então, ou a polícia! Ainda acho que tem gente assistindo muita tv.
Minha esposa foi até a rua e voltou com várias fotos digitais da porca e seus porquinhos.
E a defesa civil? insistiu a tia. Só se rolarem a porca do alto de uma encosta do morro, causando o desmoronamento de alguns barracos. É epoca de eleições, comentou o porteiro. Pode aparecer até o prefeito.
Eu já via a cena, Andre Rodhe do helicóptero da Globo, sobrevoando o local. 'Daqui de onde estamos é possivel ver a tragédia, a porca se encontra ainda sobre as lajes', mais notícias no seu jornal local ou a qualquer instante. Que porcaria (perdão, era inevitável!)
Finalmente a porca tornou-se notícia da internet. As fotos da porca da minha esposa, quer dizer, as fotos que a minha esposa tirou da porca (uff) corriam pelo mundo, mais sensuais que a funcionaria do planalto seminua, mais chocantes que as surras nos presídios iraquianos.
Começaram a surgir emails de todas as partes. Gente perguntando se a 'porquinha' era uma porca mesmo ou o nome de uma cachorrinha! Gente se oferecendo para vir de longe para ver a porca, veterinários de Niterói queriam usá-la como símbolo da campanha contra os maus-tratos sofridos pelos animais urbanos. Um senhora garantia que era vegetariana, e que não faria mal à porca se a adoção lhe fosse concedida. Grupos organizados visitavam a porca. A SUIPA entrou na questão, reclamando não ter condições para abrigar um porco, além dos 17 mil cachorros, 23 mil gatos e um papagaio.
Para não mais alongar esta novela, um dia a danada desapareceu!
A notícia espalhou-se pela internet e um homem em Limeira, São Paulo, disse que havia sonhado que a porca era o espírito de um alienígena tentando se comunicar conosco e que voltara para casa. Uma medium do Rio Grande do Norte viu o rosto da filha desaparecida no couro da porca. Romarias vieram de todas as partes para se certificar do sumiço.
As ruas da Tijuca agora estavam livres para seus mendigos e habituais fezes de cachorro e buracos.
Mas para onde teria ido parar a porca e seus três filhotes sobreviventes?
Uma amiga de uma tia de uma prima disse que viu um caminhão pequeno levar a coitada. Dizem que o Centro de Zoonoses da cidade apareceu uma tarde para capturar a bichinha, mas no telefone da entidade, segundo uma vizinha nossa, não houve registro de tal captura...
Com certeza, em algum tempo, todos esqueceremos da porcona rosa, placidamente estendida na calçada. Ficou a lição. Todos temos uma porca em nosso caminho, e antes que saibamos o que significa, ela nos será tirada! (Acho que é esa a lição, sei lá!)
Por via das dúvidas, acenderam três velas junto ao hidrante, na esquina da praça.

IN MEMORIAM