oito de setembro. se vó maria, mãe de mamãe, estivesse viva, faria 99 anos.
sei pouco da vida dela. sei que a bisavó, que também se chamava maria, morreu quando minha vó tinha sete anos. a bisavó tinha cabelo louro numa trança e, segundo a lenda da família, morreu porque pisou descalça no chão frio, de madrugada, quando foi ver o irmãozinho da minha vó no berço. deu no que deu: congestão, morreu em sete dias.
depois meu bisavô sumiu no mundo, foi pra goiás, acho. casou de novo, teve outros filhos, esqueceu da vó e do tio luiz. ela passou a morar com os pais da bisavó.
tio luiz foi trabalhar na marinha mercante. mandava cartões postais do mundo todo. um dia, o baú onde a vó guardava os cartõs desapareceu. ainda bem que eu não era nascida, senão eu ia ter um ataque.
sei pouco de vó maria antes dela ser minha vó.
mas ela era uma vó baixinha, de trança fininha num coque, não era de dar beijo, mas se preocupava com escola, namoro e alimentação. rezava toda noite por toda a família, com nome e sobrenome, reza que durava umas duas horas... às sextas feiras, comia peixe. promessa que fez pro vô sarar uma vez que ficou muito doente. quando eu questionei "mas vó, o vô já morreu tem vinte anos!" ela me respondeu, com a calma dos antigos: "mas a promessa que eu fiz foi para a vida toda".
vó maria, vó maria. a bênção.
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