98 Telinha e seus gatinhos

no dia que eu me zangar
mato voce de carinho

Ze´ Limeira

29.7.03

eu me arrepio toda lendo isso.
do globo

Durante uma turnê de lançamento pelos Estados Unidos, Isabel Allende— que a esta altura já tinha se divorciado do pai de seu filhos — conheceu William Gordon, um advogado.

Casados há 16 anos, eles moram numa casa em estilo mediterrâneo entre a Baía de San Francisco e a montanha Tamalpais, na cidade de Marin County. O filho dela, Nicolás, mora bem perto, assim como seus netos. Ela escreve num escritório ao lado da piscina, sem telefone para distraí-la e cercada de objetos que, segundo ela, a ajudam a se conectar com o passado: uma mesa de madeira maciça que pertenceu a sua avó e as cartas que recebeu da mãe quase diariamente por 45 anos. Isabel e o marido também reformaram uma casa vitoriana, perto de Sausalito, onde mantêm uma fundação para ajudar mulheres e crianças pobres. A instituição foi criada com os direitos autorais de “Paula”, livro em que a escritora conta a longa doença de sua filha Paula e sua morte, aos 29 anos, em 1992.


eu já li tanto e tanto esse livro, Isabel, que a história é um pouco minha também. você perdeu sua filha, eu perdi meu pai. e saber que paula está ajudando quem precisa, ah! isso enche meu coração de alegria.

quer saber? copy & paste na entrevista inteira, que você merece! e eu ainda tenho a ousadia de corrigir o jornalista, viu?


Os dois lares de Isabel Allende
Mirta Ojito
Do New York Times

Há dez anos, a escritora Isabel Allende se tornou cidadã americana. Seu passaporte agora a descreve como uma americana da Califórnia. Mas, no coração, ela disse recentemente, continua a ser uma latino-americana do Chile, onde estão suas raízes e onde ela viveu 30 de seus 60 anos.
Aí aconteceu o dia 11 de setembro de 2001. E, quando assistiu ao World Trade Center pegando fogo na tela da TV, seus sentimentos a respeito de sua identidade mudaram.
— Vendo as torres pegando fogo eu não consegui me distanciar — lembrou ela. — Eu fiquei de luto, como todos neste país.
Sua dor era crua, e sua identificação com as vítimas dos ataques terroristas em Nova York e em Washington eram tão fortes que Isabel começou a se sentir americana. Em seu último livro, “Meu país inventado: uma viagem nostálgica através do Chile” (HarperCollins), a escritora tenta mostra como o sentido da identidade não precisa estar ligado à nacionalidade. Às vezes ganha forma em anos de vivência em outro país. Em outras é forjada num momento de intensa conexão, como foi o seu caso.
— No momento, a Califórnia é meu lar e o Chile a terra da minha nostalgia — escreveu ela. — Meu coração não está dividido, ele aprendeu a ser maior.
Isabel viveu no Peru, no Chile, no Líbano, na Bolívia, na Suíça, na Bélgica e na Venezuela e, há 16 anos, mora nos Estados Unidos. O último livro — o 11 de sua carreira e o segundo de memórias — diz que a vontade de explorar o sentido do que é ser chilena moldou definitivamente seu sentido de identidade e influenciou sua escrita.
— A nação e a tribo se confundem na minha mente — disse ela.
Sua “tribo”, explicou depois, é sua família, sua conexão mais verdadeira depois de uma vida sempre desgarrada. Como sua família é chilena, os rituais em que ela foi criada a levam a pensar que ela seja sempre considerada chilena. O livro também é uma espécie de viagem através do Chile, que ela descreve amorosamente como “uma nação dos poetas”, onde as galinhas botam ovos “da cor do ouro”.
Um resenha no “New York Times Book Review” descreveu o livro como “sedutor, ainda que frustrante”, dizendo que “Meu país inventado” parece mais com um mapa de estrada do que com um roteiro de memórias. Isabel rebateu a crítica:
— A vida não é como um ensaio alemão. Memórias são circulares, não lineares.
Realidade, ficção e memórias — reais e inventadas — e lendas da família Allende sempre rechearam os livros de Isabel, descrita freqüentemente como uma herdeira do realismo mágico latino-americano. Mas ela garante que não há nada ligado à magia nos seus livros. Seus personagens são reais, inspirados não pela imaginação, mas pelas histórias que surgiram no meio de sua família enorme. Vem dela a tia-avó que parecia ter asas (fruto de uma deformação dos ossos dos ombros), em “Histórias de Eva Luna”. Ou a bisavó obesa e cheia de artrite de “A casa dos espíritos”.
— Com uma família como a minha, você não precisa ter imaginação — disse ela, que nasceu no Chile, filha de um diplomata chileno, primo de Salvador Allende.
Quando tinha três anos, o pai saiu para comprar cigarros e não voltou nunca mais. Ela sabe que talvez esta não seja a história inteira. Chegaram a contar para ela que o pai foi para uma festa vestido como uma típica índia peruana, teve uma noite movimentadíssima e aí esqueceu que tinha família. Por causa disso, Isabel teve que ser criada pelos avós, torturada por complexos e inseguranças. Ela era a filha do meio — única menina — de uma mulher atraente, que, abandonada pelo marido, tinha muitos pretendentes e nenhum dinheiro. Por conta disso, Isabel vou convidada a se retirar da tradicional escola católica onde estudava: as freiras não viam com bons olhos a vida de sua mãe.
A mãe de Isabel acabou namorando outro diplomata, mas o casal não pôde oficializar a união porque o divórcio ainda é ilegal no Chile. Hoje com 83 anos, a senhora Allende ainda vive com o padrasto da escritora, quatro anos mais velho. E mesmo depois de 57 anos vivendo juntos não são reconhecidos no Chile legalmente como marido e mulher.

Escritora só reviu o pai depois de morto
Isabel não viu seu pai novamente até virar mulher feita e se transformar em apresentadora de um programa de TV em Santiago. Um dia a polícia ligou para ela para identificar o corpo de um homem que tinha tido um colapso na rua. Um cartão de identificação com o nome Tomás Allende — o mesmo do irmão da escritora — tinha sido encontrado em sua carteira. Isabel correu para o necrotério achando que ia ver o irmão morto. Mas ficou imensamente aliviada ao ver o cadáver. “Nunca vi este homem na minha vida”, disse aos policiais. A esta altura, no entanto, o padrasto, para quem ela tinha ligado antes de ir ao encontro dos policiais, também chegou ao necrotério.
— E ele foi obrigado a me dizer que aquele estranho que tinha sido posto na nossa frente era meu pai.
O único parente no lado do seu pai com quem Isabel tinha contado era Salvador Allende, presidente socialista democraticamente eleito que morreu durante o golpe militar que levou o general Augusto Pinochet ao poder em outro dia 11 de setembro — o de 1973. Dois anos mais tarde — já casada e mãe de dois filhos — fugiu para a Venezuela. Lá recebeu uma carta do avô no leito de morte que se transformou no seu primeiro livro, “A casa dos espíritos”. Dois livros depois, largou o emprego que tinha como administradora de uma escola e resolveu assumir que era escritora.
Seus livros se transformaram rapidamente em best-sellers internacionais depois de traduzidos para o inglês. Dois viraram filmes hollywoodianos — “A casa dos espíritos” e “De amor e de sombras”. Durante uma turnê de lançamento pelos Estados Unidos, Isabel — que a esta altura já tinha se divorciado do pai de seu filhos — conheceu William Gordon, um advogado.
Casados há 16 anos, eles moram numa casa em estilo mediterrâneo entre a Baía de San Francisco e a montanha Tamalpais, na cidade de Marin County. O filho dela, Nicolás, mora bem perto, assim como seus netos. Ela escreve num escritório ao lado da piscina, sem telefone para distraí-la e cercada de objetos que, segundo ela, a ajudam a se conectar com o passado: uma mesa de madeira maciça que pertenceu a sua avó e as cartas que recebeu da mãe quase diariamente por 45 anos. Isabel e o marido também reformaram uma casa vitoriana, perto de Sausalito, onde mantêm uma fundação para ajudar mulheres e crianças pobres. A instituição foi criada com os direitos autorais de “Paula”, livro em que a escritora conta a longa doença de sua filha Paula e sua morte, aos 29 anos, em 1992.
A rotina da escritora e da família inclui celebrações tipicamente americanas, como o almoço de Ação de Graças e o tradicional piquenique nacional do dia 4 de julho. Ainda há muito sobre os Estados Unidos que ela não consegue entender. Como o basquete, “um jogo que um monte de homens enormes fica esperando por uma bola que nunca vem”. Ela também não consegue rir com as piadas políticas dos americanos, já que não consegue perceber a diferença entre democratas e republicanos. Por fim, diz que não consegue entender a fascinação do país inteiro com o que chama de “os flertes amorosos do presidente Clinton”.
No Chile, onde seus livros são extremamente populares, os críticos a apedrejaram por se definir, em “Um país inventado”, como uma americana com raízes chilenas. Ela garante que não ficou magoada:
— Ainda carrego comigo o meu passaporte chileno — disse ela, que sempre volta ao país para visitar a mãe e o padrasto.
Mais contundente talvez seja a maneira como ela descreve sua relação com a terra natal nas primeiras páginas do novo livro. O Chile, diz Isabel, é a terra que ela invoca “nos momentos de solidão, não só como um cenário da maioria das minhas histórias, mas como a terra que me visita em meus sonhos”.


nadanão, dona Mirta, mas Isabel escreveu uma carta ao avô que estava morrendo, para dizer que morresse em paz, as histórias da família continuariam nela, que não o esqueceria jamais... e essa carta criou vida e se transformou na casa dos espíritos!