98 Telinha e seus gatinhos

no dia que eu me zangar
mato voce de carinho

Ze´ Limeira

16.6.03

Aninha no Gravatá! Aninha no Gravatá! Aninha no Gravatáaaaaaaaaaaaaaaaa!!!!

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Mil idéias na cabeça do ‘Udigrudi’


Ana Maria Gonçalves, com seu blog “Udigrudi” www.udigrudi.blogspot.com , é uma das pioneiras na rede. Trabalhou com publicidade por 13 anos e largou a carreira para dedicar-se à literatura. Mora atualmente em Salvador, e lá escreveu dois livros. Mas já está de mudança para Tiradentes, onde fará pesquisas para seu terceiro romance, sobre ouro e pedras preciosas, dos tempos do Brasil Colonial.

Entrada no mundo blogueiro:

ANA:
Meu primeiro contato com um blog aconteceu há cerca de três anos, em lista de discussão onde foi citado o “Marketing Hacker” www.marketinghacker.com.br , do Hernani Dimantas. Fiquei entusiasmada com as novas possibilidades de comunicação. Demorei um pouco para fazer meu blog, por achar que tinha que conhecer “informatiquês” e por não acreditar que teria muita coisa a dizer. Quando comecei a publicar artigos na Novae www.novae.inf.br , tomei coragem e criei o “Udigrudi”. Este nome é uma homenagem a Glauber Rocha, que assim “tupinizou” a palavra “underground”, referindo-se ao Cinema Novo não da forma ideal, mas da possível. Bem no esquema “um blog nas mãos e mil idéias na cabeça”.

Como o blog mudou sua vida?

ANA:
O “Udigrudi” foi muito importante para algumas decisões posteriores em relação a uma mudança de vida. Estava cansada e desiludida da publicidade, e cansada também do ritmo de vida que se levava na capital. Sempre escrevi contos, poemas, crônicas, e já tinha mesmo, antes de fazer faculdade, pensado em ser escritora. Nunca levei a idéia adiante, talvez por timidez, até que comecei a publicar alguns textos no blog e a receber e-mails de várias pessoas, pedindo mais textos, comentando, falando de uma certa identificação. Tomei coragem para realizar o antigo sonho. Abandonei tudo, me mudei para a Bahia, onde nunca tinha estado, para fazer pesquisa e escrever o meu primeiro livro. Morando na Ilha de Itaparica e fazendo pesquisas em Salvador, percebi que estava diante de um material histórico riquíssimo. A ansiedade de ver alguma coisa pronta levou-me a escrever um outro livro com a pesquisa, um quase-romance misturado com memórias, o “Ao lado e à margem do que sentes por mim”. Quando o livro ficou pronto resolvi publicá-lo por conta própria, pois percebi que talvez tendo algum trabalho para mostrar, e demonstrando que eu acreditava nele a ponto de investir as minhas economias, seria mais fácil conseguir uma editora para os próximos.

A comunidade blogueira participou desta mudança?

ANA:
Os amigos que fiz através dele foram fundamentais no apoio e na divulgação de meu livro. Em menos de três meses já havia vendido 500 exemplares pela internet, sem a ajuda de nenhuma outra mídia, sem espaço nas livrarias, sem esquema de distribuição, apenas através da divulgação nos blogs e nas revistas eletrônicas e da propaganda boca-a-boca. Uma grande vitória, que me incentivou a continuar e que prova a força que tem as relações feitas na rede. Através dos blogs tenho verdadeiros amigos, pessoas com as quais me encontrei pessoalmente ou não, e que são tidas por mim como amizades de longa data.

Contatos de além-mar também?

ANA:
Através de uma amiga blogueira, de Portugal, a Dulce Dias, do “Esquissos” http://esquissos.blogspot.com , conheci o grupo de estudos literários “A Tribo”, do qual participo há mais de ano. É um grupo que publica, anualmente, uma antologia de contos. Participei no ano passado com um conto que me trouxe uma grande felicidade: foi objeto de análise de uma turma de línguas e literaturas modernas, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas na Universidade Nova de Lisboa. Isto não teria acontecido se eu não participasse do universo blogueiro.

Planos para o futuro:

ANA:
Além de manter o blog pelo tempo em que isto ainda me for prazeroso, quero investir na minha profissão de escritora. Meu segundo romance, já finalizado mas em fase de revisões, abrange quase todo o século XIX. É passado na Bahia, Rio, São Paulo e na África. Conta a história de uma mulher que tanto pode ser uma lenda quanto pode ter existido de verdade — não há documento que prove nenhuma das possibilidades —, que viveu em um período muito rico da história da Bahia e do Brasil, em guerras da independência e revoluções anti-escravagistas. No livro estão presentes as raízes do sincretismo religioso, diversas religiões africanas e o islamismo. Interessante é que há uma herança muito forte deixada pelos escravos islamizados, principalmente na Bahia. Um bom exemplo é o “patuá”, que era um saquinho feito com pele de carneiro contendo trechos do Alcorão, e o “abada”, nome dado ao “uniforme” dos atuais blocos carnavalescos e que tem sua origem na túnica usada pelos muçulmanos em dias de festa. Terminado este livro, agora estou de mudança para Tiradentes, de onde quero escrever a história da Estrada Real, que vai de Parati a Diamantina, e por onde eram escoados o ouro e as pedras preciosas que seguiam para Portugal. Escrever, hoje em dia, é o mais prazeroso dos vícios. E tudo começou quando tive coragem de começar a publicar no blog...