Fernando Bonassi. uau.
Dar ou não é questão de apetite
[por Fernando Bonassi]
Gostaria que você solucionasse minha dúvida quanto aos homens: como acreditar que eles realmente nos amam, mesmo que esse contato esteja fora do apelo carnal, ou seja, sem sexo, pelo menos por um tempo... Ametista, por e-mail
Não posso "solucionar" essa sua dúvida, porque não vejo razão para ela. Aliás, prefiro colocar ainda mais dúvidas para você: por que essa idéia de que sexo é alguma espécie de proveito apenas masculino? Que tipo de pureza é essa que o sexo macula? Mais: de onde você tirou que, do interesse sexual, não podem frutificar outros interesses, segundo seu raciocínio, "mais espirituais"? Por que entender a sexualidade como um "grande prêmio", fadado a ser entregue àquele que dispõe de, digamos, mais paciência?
Se você quer saber mesmo, acho até que damos mais importância ao sexo do que ele realmente tem. Penso que deveríamos tirar o peso moral que botamos nessa parte da vida. Torná-la mais simples e desencanada. Dar, não dar, é questão de apetite. De lançar-se ao desejo (sempre com camisinha, por favor!) quando se tem vontade e também de recusá-lo, quando não nos parecer bom o suficiente.
Pode-se argumentar que o molho da paixão torna tudo mais interessante, o que eu concordo, mas a ausência desse tempero não invalida outras qualidades da refeição.
Não consigo entender esse jogo de gato e rato no que diz respeito às coisas do sexo. Acho um atraso ético assumir papéis sexuais definidos demais, especialmente aqueles mais doentes, que rezam que uns devem se comportar como caçadores e outras como caça.
Para mim, tão triste quanto aquele ou aquela que crê na relação sexual como a única coisa relevante na parceira ou parceiro é quem imagina que a capacidade de privação de sexo atesta mais amor. Sexo é o engate divertido de dois corpos. É mais que um alívio e é menos do que a vida. Ele não cura todos os males, só aqueles que dizem respeito à falta dele. Não acho pouco. E não acho tudo.
Trabalhamos, dormimos, estudamos, votamos, brigamos, sacaneamos, somos sublimes, mesquinhos, interessantes e chatos alternadamente. Muitos de nós conhecem as dores e delícias de encontrar e permanecer com as caras-metades. Sexo é bom. Amor é bom. Amor com sexo é bom. Praticai o que é bom e estarás praticando o bem.
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