Por que publicitários viram marqueteiros?
Tutty Vasquez
25.Ago.2002
Transcorrida a primeira semana da propaganda política na TV já dá para se cobrar o seguinte: quem foi o maluco que espalhou por aí que o Horário Eleitoral Gratuito seria fundamental no processo de escolha de candidatos? Outra coisa: como é que a crônica especializada, com larga experiência na cobertura dessa palhaçada, tomou de novo como verdade a mentirinha dos marqueteiros?
Entra campanha, sai campanha e o que se vê na propaganda eleitoral obrigatória é sempre a mesma porcaria. Discursos velhos e vazios, estética cafona, recursos de quinta dramaturgia, esquetes amadores, entrevistas de araque, melodramas constrangedores, políticos expostos ao ridículo na TV. Seria cômico não fosse trágico. Se Nizan Guanaes e Duda Mendonça anunciassem pasta de dente com a mesma competência com que vendem candidatos, estariam arruinados no negócio da propaganda.
Seria ofensivo à Nação Pataxó chamar aquilo de programa de índio. É programa de marqueteiro político, essa categoria cujo sucesso precede a atividade. Nizan e Duda já eram muito mais que baianos quando as campanhas eleitorais começaram a flertar com a publicidade. Eram homens ricos, cercados de gente bonita e interessante, premiados em Cannes, príncipes dos reclames e reis de Trancoso. Por que jogaram tudo isso na vala comum da mediocridade política, eis o mistério que o tempo haverá de esclarecer.
Ninguém troca a Coca-Cola pelo José Serra ou a Mercedes Benz pelo Lula pensando em prestígio ou dinheiro. Ganha-se muito mais, inclusive aplausos, em 15 segundos de comercial do que em cinco ou dez minutos diários de propaganda política. Em matéria de charme, francamente, campanha eleitoral rende aos marqueteiros a graça e a bossa de um jingle do José Serra interpretado pela Elba Ramalho.
Podiam estar fazendo o que fazem por compromisso ideológico não fosse o marqueteiro do Lula ex de Paulo Maluf e Fernando De La Rua. Publicitários não entram no mérito da qualidade do produto que ajudam a vender, seja ele candidato, plano de saúde ou repelente para mosquitos.
Por fim, palavra de quem já acompanhou de perto políticos em campanha, não há nada mais pobre intelectualmente que o contato direto com assessores de candidatos em busca de votos. Ô, raça!
Por que, então, Duda Mendonça e Nizan Guanaes mancham seu passado de glória ioruba perante a elite da Nação Nagô assinando esses programetes vagabundérrimos? Tenho para mim que os dois fazem o que fazem para fugir da tensão dos negócios nas agências de publicidade. Política para eles é uma brincadeira de boneca. Um troca a roupinha do Lula, o outro se diverte com o José Serra que ri quando apertam-lhe a barriga. No mais, é aquilo: dar banho, aparar a barba, fazer chorar, ensinar a carregar neném no colo, preparar o papá, botar pra naná...
Melhor de tudo: não há derrotados nessa brincadeira. Quem perde eleição, afinal, são os políticos. Pensando bem, deve ser mesmo divertido fazer o que eles fazem.
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