98 Telinha e seus gatinhos

no dia que eu me zangar
mato voce de carinho

Ze´ Limeira

25.8.02

Passei um tempinho no telefone com a Meg ontem - toda vez que falo com ela sempre é um tempinho, passa voando... com direito a risadas e miados de Atum, enciumado.

Pois nesta conversa a gente descobriu um ponto em comum, que é sério mas não é catastrófico: a convivência com a depressão. No caso dela, ela está atravessando uma, no meu caso, além de ter tomado as minhas fluoxetinas, a minha mãe sofre de distúrbio bipolar, antigamente conhecido como psicose maníaco-depressiva. Ou tá esfuziante ou tá derrubada - o equilíbrio é bem precário, e isso dura já mais de dez anos.

Tou falando aqui por estímulo que a Meg me deu, para tirar também a capa de "OOOOh, depressão" que as pessoas têm, os preconceitos e as peninhas. Uma vez eu disse que minha mãe é como um rio que tem enchente de vez em quando. A gente tá lá, morando na beira do rio, com nossas vidas, nossas casinhas. E a água sobe e leva tudo. E lá vamos nós reconstruir tudo de novo, até que a próxima enchente leve. Dói prá caramba, gente, conviver com um depressivo, mas dói como doeria conviver com qualquer doente de corpo. A diferença é que, desequilíbrios químicos no cérebro à parte, a depressão é uma dor de alma. E o doente, essa pessoa que a gente gosta, encara os infernos durante as crises. Mas quando melhora é aquela mesmíssima pessoa de antes, com defeitos e qualidades inalteradas. É o rio voltando ao seu curso, só que no caso da minha mãe as terras não ficam férteis por conta da enchente...

Por isso, siga o meu raciocínio: se vc tem dor de dente, vai no dentista. Se tem angina, vai no cardiologista. Se começar a sentir que a vida tá cinzenta, que tanto faz dormir ou acordar, se perder as forças da alma, não hesite nem seja alvo do seu próprio preconceito: seja prático, busque ajuda num psicólogo de sua confiança, se precisar tomar remédios, tome. você não vai mudar, nem criar tentáculos e nem ser apontado na rua por tomar remédio contra uma doença que atinge cada dia mais gente.

preconceito é pior que depressão. isso eu sei na pele.