copiado da folha de são paulo de hoje
Qualquer um dos três é lucro
Barbara Gancia
Vamos falar sério? A verdade verdadeira é que a campanha de José Serra entrou em colapso. Na mais recente pesquisa, o candidato do governo até ganhou um ponto percentual, mas isso quer dizer muito pouco a esta altura.
Os serristas continuam apostando todas as suas fichas no horário eleitoral, mas a desorganização no comitê e a má vontade dos correligionários do candidato são tão evidentes que é difícil prever grandes mudanças a partir do início da campanha na televisão e no rádio.
Por este Brasilzão afora, são poucos os candidatos a governador com chances de se eleger que fazem questão de ter o ex-ministro da Saúde em seus palanques. E as pessoas que deveriam estar apoiando Serra fazem corpo mole ou tiram o time de campo.
Há até quem já ande falando na possibilidade de Ciro levar a eleição logo no primeiro turno. Já pensou? De repente, aqueles eleitores que apóiam Fernando Henrique e que nunca votariam em Lula, mas que aplaudem o fato de que o governo FHC colocou as oligarquias do Nordeste para correr (nem que tenha sido só uma corridinha em volta do quarteirão), vão ter de votar no candidato do PT de cara, no primeiro turno, só para afastar de cena os fantasmas de Antonio Carlos Magalhães e José Sarney, entre outros. Quer quadro mais surrealista do que esse?
Acontece que Serra anda tão perdido que nem mesmo uma agenda detalhada para cumprir ele tem mais. Na semana retrasada, em plena noite de sexta-feira, encontrei o candidato em uma festa para comemorar os quatro meses de existência de um programa de TV. Ué? Ele não deveria estar fazendo campanha em algum lugar mais importante? Não, estava lá na festinha para poucos e bons e ainda avisou que não iria responder às perguntas dos jornalistas presentes, pois tinha ido à festa em caráter particular. Eu pergunto: a dois meses de uma eleição para presidente, por acaso um candidato pode se dar ao luxo de ter momentos privados nas noites de sexta?
E como é que ficam aqueles que acham que só Serra seria a salvação da lavoura? Bem, a eles eu digo o seguinte: seja Lula, Ciro ou Serra o eleito, a jovem democracia brazuca estará bem servida.
Por mais que a gente aponte defeitos nos nossos candidatos, os três são bem talhados para o cargo. Ou será que Lula, Ciro e Serra ficam devendo para gente do naipe de Berlusconi, Haider, Bush e Al Gore ou Chirac e Le Pen?
Signos para um pênalti
José Roberto Torero - colunista da Folha
Caro leitor, querida, adorada e idolatrada leitora, um pênalti é muito mais que um simples tiro a 11 metros do gol. Um pênalti é, em si, um tratado de psicologia, um capítulo da teoria do conhecimento, um estudo sobre os limites do homem, um espelho d'alma. Pela maneira como alguém bate um pênalti pode-se saber se ele é indeciso ou decidido, sanguíneo ou calculista.
Mas isso não é tudo. Pode-se saber até de que signo é o sujeito pelo seu modo de cobrar um pênalti. Segundo meu professor de astrologia ludopédica, o PhD (professor hermético e divinátório) Zé Cabala, estes são os modos de cada signo bater um pênalti:
Os piscianos ficam distraídos e dizem: "Quê, eu é que vou bater?".
Já os arianos dão uma bicuda no meio do gol e comemoram provocando o goleiro adversário.
Os taurinos bocejam, lamentam que não tenham escolhido outro jogador, andam devagar até a bola e chutam no cantinho.
Os geminianos coçam a cabeça e pensam: "Bato no canto esquerdo ou no direito? Acho que vou bater no esquerdo. Não, não, no direito. Se bem que eu posso bater no meio. Céus, que dúvida cruel! Já sei!, vou usar um método científico para escolher o canto: u-ni-du-ni-tê...". E depois disso tudo chutam por cima do travessão.
Cancerianos batem num canto qualquer e fecham os olhos para não ver o resultado do lance. Normalmente não festejam quando acertam o gol, preferindo agradecer a Deus por não terem estragado tudo dessa vez.
Os leoninos costumam chutar com força e, acertando ou não, correm na direção dos fotógrafos. No dia seguinte, compram todos os jornais e revistas, recortam as matérias em que apareceram e se perguntam se não é hora de comprar uma casa maior para poder guardar todos aqueles álbuns.
Virginianos só cobram o pênalti após medir a distância por si mesmos, calcular as possíveis trajetória da bola, avaliar corretamente a influência do vento e se questionar, diante dos companheiros, se aquela é realmente uma experiência válida de se viver.
Os librianos, antes de desferir o chute, já pensam nos parabéns que receberão e na festa que haverá depois.
Escorpianos batem com vontade e capricho, mas dizem que, na verdade, queriam errar.
Os sagitarianos vão para a bola dançando, chutam de trivela e, depois, comemoram dando muitas cambalhotas.
E os capricornianos só batem numa circunstância: quando não querem que eles batam.
Mas a penaltiologia não pára por aí. Ela ainda permite que façamos algumas previsões. Por exemplo, segundo profundos estudos realizados pelo mestre dos mestres, o mirífico Zé Cabala, Eduardo Suplicy bateria em câmera lenta, a prefeita Marta com uma chuteira importada, Collor morderia a bola e seria mandado a um sanatório, Lula miraria no canto esquerdo, mas acertaria no centro, Ciro miraria no centro, mas acertaria na direita, Garotinho miraria em qualquer lugar e não acertaria em lugar nenhum, Serra cobraria a penalidade como FHC mandasse, FHC bateria duas vezes e não acertaria nenhuma, Pitta chutaria como Maluf mandasse, Maluf bateria o pênalti pensando no bicho que iria depositar nas Ilhas Jersey, Joaquim Roriz levaria a bola para casa, e ACM não bateria pênalti nenhum, mas ficaria do lado de quem fizesse o gol.
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