98 Telinha e seus gatinhos

no dia que eu me zangar
mato voce de carinho

Ze´ Limeira

5.4.02

Los Simpsons
Toni Marques
O Globo

Foram necessárias 13 temporadas para que a família mais cáustica e adorada dos Estados Unidos fosse ao Brasil — e satirizasse a permissividade, a violência, a pobreza e o caos institucionalizado. Exibido na noite de domingo, o episódio “Blame it on Lisa” (“Reclame com a Lisa” ou “A culpa é da Lisa”) mostra os Simpsons indo ao Rio de Janeiro, onde Ronaldo, o órfão a quem Lisa envia dinheiro, desapareceu. Durante a viagem, Homer, o chefe da família, é seqüestrado por um motorista de táxi carioca.

O ponto de partida da viagem são as contas telefônicas dos Simpsons. Ao se queixarem à companhia telefônica, alegando que a família não deu os telefonemas para o Brasil que aparecem na conta, Homer e sua mulher, Marge, aceitam a sugestão da funcionária que os atende: desligar o telefone. Em casa, Lisa tenta, sem sucesso, telefonar para uma amiga. A situação a obriga a revelar que era ela quem vinha telefonando para o Brasil, pois participa de um programa de patrocínio de órfãos brasileiros, e o órfão que lhe cabe, Ronaldo, sumiu. Tais programas são bastante comuns nos Estados Unidos, contando com anúncios na TV para arrecadação de dinheiro, com cenas gravadas até mesmo em favelas brasileiras.

A família só se convence da necessidade da viagem depois de assistir a uma fita de vídeo de Ronaldo, enviada pelo Orfanato dos Anjos Imundos, entidade sediada numa favela carioca. Na gravação, Ronaldo diz que o dinheiro enviado por Lisa serviu para que ele comprasse um sapato que vai durar “mil sambas”. O orfanato pôde, com o troco, adquirir uma porta e assim acabar com a rotineira invasão de macacos. No fim da fita, um bando de macacos furiosos tenta atacar Ronaldo. Ele se salva entrando no orfanato — que, naturalmente, está caindo aos pedaços — e fechando a porta.

Mas é Bart quem dá o argumento decisivo e prosaico em prol da viagem: os Simpsons nunca estiveram na América do Sul. Nem na Antártica, salienta Lisa. Homer então diz que, este ano, eles vão ao Brasil e, no ano que vem, à Antártica.

Escola de samba é onde se ensinam lambada e macarena

O comandante da companhia “Aerobrasil” se chama Hernando — uma das deixas para que o episódio brinque com o típico equívoco americano de que a língua falada no Brasil é o castelhano. Bart, o irmão de Lisa, chega a ouvir, a bordo, fitas cassete de um curso de castelhano, mas Marge lhe faz ver que no Brasil se fala português. Uma vez no Rio, porém, o sotaque dos personagens brasileiros e determinadas situações reiteram o equívoco. Como uma cena ambientada numa escola de samba (escola, aqui, deve ser entendida na sua acepção literal), quando um “professor” explica que ali se ensinam lambada e... macarena! E ainda “penetrada”, nova dança que, segundo o tal professor, fará “sexo parecer coisa de igreja”).

Um dos muitos pontos contundentes da sátira é o teor de um programa televisivo infantil, do qual Bart, assistindo no quarto do hotel, em Copacabana, torna-se automaticamente fã. O programa é apresentado por uma ex-stripper e se chama “Teleboobies”, que significa “Telepeitos", um trocadilho com “Teletubies”.

“Blame it on Lisa” só deverá chegar ao Brasil, onde “Os Simpsons” é exibido pelo canal a cabo Fox, em outubro. Se não for seqüestrado, é claro.