98 Telinha e seus gatinhos

no dia que eu me zangar
mato voce de carinho

Ze´ Limeira

20.2.02

brincando em cima daquilo

Paus para toda obra (de arte)

Um dos cartazes internos revela o slogan, em inglês: "O pênis é a nova vagina", como a jornalista de moda diria que "o xadrez é o novo preto", revelando uma tendência. O pênis no caso é o pênis mesmo. Mais precisamente dois. Pior ainda, australianos.

A peça é "Puppetry of The Penis" (teatro de fantoches do pênis), em cartaz num teatro mequetrefe da rua 42. A vagina do slogan é uma cutucada no mais bem-sucedido e mais famoso e com mais mídia e com mais gente famosa "Os Monólogos da Vagina", também em cartaz em Nova York.

A noite começa com uma mulher fazendo o que os americanos fazem melhor: stand-up comedy, ela sozinha no meio do palco contando piada enquanto os dois bravos atores "esquentam" nos bastidores. Ficamos sabendo que a performance sexual das nova-iorquinas no primeiro encontro varia de acordo com o tamanho da conta do jantar.

Se for uma saladinha, vai ter só beijo e olhe lá. Ela pediu lagosta? Prepare-se para o melhor (ou pior). "A gente é assim, se sente na obrigação de retribuir", diz a comediante. A platéia é formada na maioria por grupos de amigas que foram ver "esta loucura (risinhos)" e dar risadas, muitas, nervosas, gritadas. Tem também casais, ele sem-graça, ela sorrindo e apertando a mão dele. E casais, ele rindo, ele também.

Aí, entra o mestre-de-cerimônias, vestido de romano da época do Império. Toga e mais nada. Introduz, por assim dizer, o que vem a seguir. O que vem a seguir são dois australianos feios como só o povo que inventou o Vegemite pode ser. Ele estão enrolados em panos de quinta categoria que funcionam como robes e explicam o que vão fazer.

Utilizando os dois pintos, vão fazer 50 minutos de teatro de bonecos. Caem os panos e eles fazem. Primeiro, é preciso registrar que nunca na história da humanidade duas pessoas foram premiadas com dois pênis e escrotos tão elásticos. Para se ter uma idéia, o ato é encerrado com o windsurf de um deles, usando o mastro como mastro e a pele como vela.

Com duas mãos habilidosas e os instrumentos nestas mãos, eles criam de tudo. Dos tradicionais "mulher" e "cogumelo" aos sofisticados "fio dental", "vulva" e "hemorróida". Tem o "hambúrguer". O "gênio" (um grande cérebro). A "Torre Eiffell". O "canguru", claro. A "lesma saindo do casulo". A "bomba atômica". São mais de 60 truques da, segundo os dois atores, "ancestral arte australiana do origami genital".

O espetáculo foi criado em 1996 por Simon Morley em Melbourne. Com o amigo David "Friendy" Friend, que já manuseava a arte peniana desde adolescente, montou um espetáculo fundo-de-quintal que cresceu e tomou a Austrália. Nos últimos anos, chegou a Londres, Toronto e, agora, a Nova York.

Em duas palavras? Do cacete.

Na Internet: puppetry of the penis.


Lucio Dávila, UOL, coluna Pop, Pop, Pop, que finalmente deixou de falar do 11 de setembro.