98 Telinha e seus gatinhos

no dia que eu me zangar
mato voce de carinho

Ze´ Limeira

20.12.01

clipping

Do Globo, hoje, coluna Hildegard Angel

Não são só os talibãs. O Grupo Guararapes, dos mais poderosos do Nordeste, dono da rede Riachuelo, foi vítima de um ataque terrorista eletrônico. Um hacker adulterou a versão para o árabe da palavra peace, no site de tradução consultado pela empresa de merchandising Falzoni, prestadora de serviços às lojas, que por isso foram decoradas com mensagens em dezesseis idiomas em que a palavra paz, em árabe, significava assassinos sanguinários! O assunto virou escândalo em Campo Grande, uma das primeiras praças em que foi montada, e logo retirada, a decoração de Natal...


Da Folha de São Paulo, dia 17

O conto tonto da duende doente
Mario Sergio Conti

Os diretores de "Xuxa e os Duendes", Paulo Sergio Almeida e Rogério Gomes, não são autores. São técnicos. O filme deles é um veículo para que uma celebridade fature.

Fature e se expresse, já que, como escreveu Freud, ninguém consegue esconder o que é. "Xuxa e os Duendes" é a expressão de uma personagem gasta, triste, solitária, infantilizada, sem identidade, neurótica, antifamília, insensível, mágica e materialista.

Gasta. Xuxa, 38, interpreta Kira. Seu rosto traz a marca de plásticas antigas e retoques de botox. Ela tem a sem-gracice de uma macilenta camponesa alemã. Kira está bochechuda como a Xuxa de "Amor, Estranho Amor", o filme de Walther Hugo Khoury em que aparecia belamente nua para seduzir e fazer amor com um baixinho. Só que agora ela não mostra nem o joelho.

Triste. Ela passa o filme apreensiva, como se estivesse com enxaqueca. Quase não sorri. Não demonstra alegria ou vibração. Até os olhos fulgurantes estão embaçados, mormacentos.

Solitária. Kira, mora sozinha. Raramente sai de uma estufa, de aparência uterina, onde conversa com plantas. Autoritária como um coronel da SS, trata seus dois criados como coisas. Não tem namorado.

Infantilizada. A única amiga de Kira no filme é uma menina de menos de dez anos, sua vizinha, com quem brinca de roda. Os adultos lhe deixam gélida. Não tem com eles nenhum laço afetivo. Desconhece o que seja o amor físico. Tem a estatura psíquica de um gnomo.

Neurótica. Kira não sabe de onde veio. Não lembra de seus pais nem da sua meninice. A bancada vienense bem sabe o que isso significa: neurose da brava. Algum trauma na primeira infância provocou a repressão, o esquecimento do passado, a não-identidade no presente. Ela compensa o vazio interior trocando de roupa a cada minuto.

Esquizofrênica. Essa mulher triste descobre no fim de "Xuxa e os Duendes" que não é mulher. Ela não pertence à espécie humana. É uma duende. Veio das profundezas da terra com a vaga missão de proteger a natureza. Adotou a conduta humana mas sempre sentiu-se estranha, outra, entre homens e mulheres: uma personalidade partida, dupla.

Contra a família. No final do filme ela tem que escolher: voltar com o pai e a mãe para o reino dos duendes ou ficar na terra. Kira repudia sua gente e sua família para ficar no Brasil onde, repita-se, só tem como amiga uma menina com trinta anos menos que ela.

Insensível. A trama de "Xuxa e os Duendes" (que seria chatíssimo resumir) é deflagrada pela demissão de um cidadão de classe média. Para fazer frente às dificuldades econômicas, ele é obrigado a vender a casa a uma empresa. Kira se empenha e consegue reverter a venda. Pouco se importa com o destino do trabalhador, que termina o filme desempregado e sem ter quem o ampare.

Mágica materialista. Kira repete duas vezes que é preciso "acreditar na natureza e na magia". Só que ela mesma não crê na natureza. Tanto que abandona sua real natureza, a de duende, para ficar na terra. Nisso ela mimetiza Xuxa, que abandonou a natureza humana para se tornar uma mercadoria. Já o apelo à crença na magia tem razão de ser: a mercadoria Xuxa opera a mágica de transformar o conto tonto da duende doente num tesouro milionário.