A.I.
Discussão filosófica sobre A.I. aqui em casa.
Fred defende o fato do menino-robô amar a sua mãe. E eu digo que uma máquina que está executando um programa de amor não tem sentimentos legítimos.
Fred retruca, dizendo que um cálculo feito por uma máquina é tão ou mais válido que um cálculo feito por humanos. E eu digo que sentimentos não são cálculos, não são fórmulas e não são matematicamente mensuráveis.
Fred diz que, simplificando ao máximo, tudo pode ser reduzido a zero ou um. Linguagem binária, sim ou não. E eu digo que a psique humana é muito mais complicada.
Fred argumenta que eletrodos no cérebro estimulam partes "amorosas". Cita o caso de um senhor que sofreu não sei qual acidente, e que uma das conseqüências foi não reconhecer seu pai. Com o estímulo elétrico adequado, este senhor podia reconhecê-lo e amá-lo. Sem esssa interferência, o pai não passava de um homem desconhecido. E eu ri, lembrando de uma amiga que, desiludida num namoro, disse que, cientificamente, quem ama é o hipotálamo.
Como eu ri, Fred julgou ter ganho a discussão e deu o assunto por encerrado.
Eu não, sou teimosa. Sentimentos não se definem por um programa de computador, e mesmo que um dia haja um robozinho edipiano, um sentimento não aflora ao pressionar um "play" da vida. Sentimentos são absolutamente complexos e não há amor 100% puro. Amor de mãe é que não é mesmo, embora seja um dos maiores da vida (não sou mãe, falo por observação). Já escrevi aqui que a maioria das canções de ninar são de amor e ódio. A mãe ama o bebê, sem dúvida, mas há muito caroço nesse angu, como disse, empoladamente, o velho Freud.
Agora eu pensei como deve ser difícil amar algo imutável. O David será menino até o fim dos tempos. Não vai crescer, não vai evoluir, não vai amadurecer. Não será um adulto num corpo de criança, como Claudia, a menina vampira de Anne Rice. Será eternamente um menino daquela idade, com aqueles sentimentos próprios e aquelas necessidades inerentes. Será um amor parado no tempo: parece um enredo de um filme de terror. Você com trinta, o menino com 13. Você com quarenta, o menino com 13. Você com 50, o menino com 13. Você com 75, o menino com 13. E sempre, e sempre. E ele se achando humano. Dá vontade de dizer "O horror, o horror".
E, na minha humilde opinião, aceitar um "amor" de uma máquina é o maior sinal de carência afetiva deste mundo. Mas, como a Leila Diniz já disse, na hora do aperto, "cafuné, até de macaco."
Prefiro minhas imperfeições e as alheias também. Tentar viver à altura de um amor 100% puro de uma máquina perfeita me faria ter uma úlcera. Não, obrigada.
(e, sim, acho que o Haley Joel Osment merece um Oscar. Ele está sublime. Mas eu não comprei a idéia.)
E quem quiser saber mais a respeito, recomendo assistir "O Homem Bicentenário", com o Robim Williams e ler Idoru, de William Gibson. Além, claro, do livro "Superbrinquedos duram o verão todo", de Brian Aldiss, que tem os três contos que originaram o filme A.I.
PS: como valorizar um amor sem encantamento? Um amor que não se fez aos poucos, ou - raras vezes - caiu como um raio? Como amar um "filho" que chega desse jeito? Como olhar nos olhinhos lindos do robô e fingir que não vê o vazio? Ah, não, eu sou anacronicamente romântica. Ridiculamente romântica. Não sirvo para tempos de A.I. Viveria aos sustos e sobressaltos e o filho-robô teria que ir para a manutenção.
Mas o Teddy eu queria :) E, talvez, dançar com o Gigolo Joe. Nada mais.
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