Anna Barbara é impossível. consegue transformar multa em poesia.
olha o que ela escreveu lá nos Despropósitos:
22 de Julho de 2003 - 19h55
Não adiantou dizer que eu era uma motorista responsável e só tinha ultrapassado em local proibido porque tinha visto que não vinha ninguém. Não adiantou perguntar pro guarda por que razão era ali proibida a ultrapassagem. Não adiantou perguntar se ele realmente achava que eu tinha feito algo perigoso. "É o meu trabalho", ele respondeu. E pediu meus documentos. Depois de uns cinco minutos, me entregou um papel notificando a multa - "não fique chateada" - e completou: "desculpa... desculpa mesmo."
Então eu forcei um sorriso, olhei bem para ele e respondi com o seguinte poema, enquanto dobrava a multa, ligava o carro, fechava o vidro e seguia meu caminho:
"Meu coração tem um sereno jeito
E as minhas mãos o golpe duro e presto
De tal maneira que, depois de feito
Desencontrado, eu mesmo me contesto
Se trago as mãos distantes do meu peito
É que há distância entre intenção e gesto
E se o meu coração nas mãos estreito
Me assombra a súbita impressão de incesto
Quando me encontro no calor da luta
Ostento a aguda empunhadora à proa
Mas o meu peito se desabotoa
E se a sentença se anuncia bruta
Mais que depressa a mão cega executa
Pois que senão o coração perdoa..."
(Chico Buarque, em Calabar)
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