Um Carnaval imbatível
Luís Nassif
Existem pessoas, certamente apenas dentre as que nunca vieram ao Carnaval de Pernambuco, que ainda não sabem da novidade, mas ali já se tem o maior Carnaval do país.
Só há um item em que Pernambuco perde para o Rio e a Bahia: o showbizz, a exibição de estrelas conhecidas e candidatas a estrelas.
No restante é imbatível, seja na musicalidade, na diversidade, no colorido ou como cultura popular.
Como produto cultural, não há nada que chegue remotamente perto do que o Estado oferece. Maracatus, frevos, blocos, entre uma infinidade de manifestações culturais riquíssimas, coloridas, alegres.
Como produto turístico, ao longo de anos o Estado e a cidade foram se organizando, criando a infra-estrutura.
Recife sempre foi o pólo máximo da cultura nordestina. Antes de explodir no Rio, todos os artistas do Nordeste tinham passagem obrigatória por Recife, pela rádio Clube e pelo Jornal do Comércio.
Nos anos 70 veio a decadência dos engenhos e a televisão tornou-se produto cada vez mais nacional e menos regional. Sob a influência da TV Globo, disseminou-se por todo o país o modelo do Carnaval carioca, com suas fantasias caras, sua organização rígida. As manifestações regionais foram sendo esmagadas.
A resistência deu-se aos poucos. Nos anos 70, recriou-se em Recife o Bloco da Saudade, nos moldes dos velhos blocos em extinção. Nos anos 80 acabou-se com a burocratização do Carnaval de Recife, soltando o povo na rua. Olinda já regurgitava de gente nos Carnavais.
Nos anos 90, o pessoal da universidade, os intelectuais, os empresários, a classe média começaram a se voltar para a sua cultura, recriando blocos e maracatus. De sua parte, o Estado passou a montar cursos para a confecção das vestimentas de maracatu, para ensinar a fabricação de instrumentos.
E aí havia a base, de milhares de músicos anônimos tocando todos os instrumentos de sopro. De quase desaparecido, o maracatu possui hoje em dia mais de 80 grupos rurais e urbanos. Os blocos de rua se multiplicam.
A infra-estrutura pública foi completando a obra. Nos anos 90, inaugurou-se o Marco Zero, enorme praça para shows gigantescos, em pleno Recife velho. Depois, reformou-se o Recife velho, que virou centro de lazer agradabilíssimo.
Na cidade, optou-se por descentralizar o Carnaval, criando pontos de Carnaval em cada bairro. Depois, incorporou-se ao Carnaval do Estado eventos regionais, como o Papangu de Bezerros e o maracatu rural, de Nazaré.
Hoje há ampla diversidade, do desfile do Galo da Madrugada, que começa às 10h, com trios elétricos tocando música acústica, os grandes shows nordestinos no Marco Zero, os desfiles de blocos e maracatus, e até cerimônias religioso-carnavalescas originalíssimas, como a Noite dos Tambores Silenciosos, que reúne maracatus de todo o Estado para sua celebração.
E tem os grandes artistas populares -liderados pelo onipresente Alceu Valença - produzindo uma música de Carnaval variadas.
Cultura popular riquíssima, e alguma continuidade na administração pública, levaram a isso: é questão de tempo para que Pernambuco se torne um pólo superior à Bahia, no turístico de Carnaval.
E-mail - LNassif@uol.com.br
depois digam se eu não tenho razão em ficar ancha!
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