98 Telinha e seus gatinhos

no dia que eu me zangar
mato voce de carinho

Ze´ Limeira

31.12.02

Revista Time seleciona os dez melhores filmes de 2002
(um pouco resumido...)

1) "Fale com Ela", de Pedro Almodóvar, Espanha
"Fale Com Ela" conta a história de duas jovens mulheres, ambas em estado de coma, e dos dois homens que as amam. Onde acaba a devoção e onde começa a obsessão? Como pode um estupro se transformar em milagre? Como pode um final perfeito acabar se parecendo com um começo perfeito? Almodóvar fornece todas as respostas neste filme que mais se parece com um milagre imprevisível.

2) "Gangs de Nova York", de Martin Scorsese, EUA
Daniel Day-Lewis e Leonardo DiCaprio cultivam a sua rivalidade neste afresco monumental onde desfilam a avidez, a ambição, a traição e o ódio que, de tão extremado, se aproxima da morte. O que essas emoções perturbadoras acabaram criando? A cidade americana. E, aqui, um filme épico grandioso e brutal.

3) "Russian Ark", de Alexander Sokurov, Rússia
Se fosse preciso apontar alguma vez um filme que exige ser visto duas vezes, este aqui deveria ser escolhido como exemplo: ele nos conduz para uma visita guiada do Museu Hermitage que, durante 150 anos, foi o Palácio de Inverno dos czares. Numa primeira sessão, vale respirar a atmosfera e a intriga, enquanto a família real dos Romanov circula pelos extensos corredores, dança em bailes suntuosos (onde 800 figurantes comparecem em fantasias de época) e decreta sentenças de morte ou ainda torna-se vítima delas. Numa segunda sessão, é preferível concentrar-se no trabalho de filmagem e nos movimentos da câmera - uma vez que o filme inteiro é constituído de uma única tomada de Steadycam de 87 minutos! Talvez seja uma das técnicas de filmes mais estupendas já experimentadas, e Sokurov tira dela o melhor partido possível, graças à velocidade, à graça e ao equilíbrio impossível demonstrados pelo jovem Jackie Chan. Qual filme poderia ser mais espantoso que Russian Ark? Somente o seu Making of...

4) "Devdas", de Sanjay Leela Bhansali, Índia
Não existe nenhuma introdução mais sedutora e rica em cores à estética de Bollywood do que este espetáculo inteiramente cantado, dançado e repleto de mil fogos. O enredo, baseado numa novela escrita em 1917, não passa de uma apologia dos bons e velhos valores familiares: um rapaz rico (o galã universal Shahrukh Khan) sai de casa, abandona a namorada (a ex-Miss Mundo Aishwarya Rai), flerta com uma prostituta (a experiente Madhuri Dixit), e sofre nobremente. Além de tudo, "Devdas" é um encanto visual, com imensos sets de filmagem, roupas fabulosas e pessoas lindas para vesti-las; possui um esplendor que os velhos magnatas de Hollywood teriam adorado.

5) "Minority Report - A Nova Lei", de Steven Spielberg, EUA
Estimulado pela oportunidades de interação das imagens com o roteiro que proporciona o trabalho de abertura e de atualização dessa história escrita por Philip K. Dick em 1955, Spielberg cria um amálgama do futuro com o passado, de uma grande beleza plástica. Ele também mostra-se respeitoso da visão original de um grande autor de ficção científica, sem contudo deixar de divertir os milhões de espectadores ordinários que não conhecem Dick.

6) "A Agenda", de Laurent Cantet, França
Quando você está desempregado, precisa se manter ocupado. É o que Vincent (Aurelien Recoing, com o seu personagem fascinante de tão opaco) tenta fazer após ter sido demitido de sua função de burro de carga de escritório. Esta comédia sombria, em que as emoções se expressam muito pouco, examina as limitações de caráter de um homem cuja identidade foi definida durante a vida toda pelo trabalho, e perde o seu rumo e sua personalidade quando é despedido.

7) "Bowling for Columbine" de Michael Moore, EUA
Desta vez, esse agitador que seguro de si quando tem uma câmera nas mãos mostra ter duas, três ou mais opiniões sobre um único assunto. Ele odeia a violência manifestada por meio das armas, e mostra por meio de entrevistas, de projeções de slides e desenhos animados como os americanos não passam de sedentos por sangue que só se realizam quando estão segurando uma arma. Mas, Moore adora armas! Ele é um membro da NRA (Associação americana de detentores de armas) - membro este que ganhou um concurso de tiro na faculdade. Esta contradição conflituosa, somada ao seu talento nato pela manipulação de imagens (e de estatísticas), torna "Columbine" a mais interessante tragicomédia já criada por Moore - e faz também dela o documentário de maior bilheteria de todos os tempos.

8) "Spirited Away", de Hayao Miyazaki, Japão
Uma garota solitária vagueia a esmo numa sauna pública mantida por fantasmas. Este é o enredo deste novo trabalho Miyazaki, uma delícia estimulante do mestre da animação oriental. Rainhas tirânicas, rapazes-dragões e um deus do rio de um fedor fabuloso povoam este universo naquilo que constitui o melhor exemplo de animação tradicional desde Aladdin. É ao mesmo tempo amigável, assustador e, assim como toda boa história de fantasmas, perfeitamente assombroso.

9) "O Senhor dos Anéis - As Duas Torres", de Peter Jackson, Nova Zelândia
É difícil afirmar se este episódio é ou não melhor do que "A Sociedade do Anel". Os dois primeiros episódios são tão diferentes em termos de tom e de abordagem. "As Duas Torres", centrado na história do sítio de Rohan, é um filme muito desconfiado da guerra, que deixa transparecer ecos distantes do medo atual do Ocidente em relação às ameaças da nebulosa terrorista. Mas a verdadeira batalha do filme diz respeito a Frodo the Hobbit que está prestes a se render ao brilho doentio do Grande Anel. Uma combinação instigante de espetáculo, romance e técnica cinematográfica próxima da magia, esta continuação de qualidade superior reúne cerca de três quintos de tudo o que os filmes conseguem fazer.

10) "The Quiet American", de Phillip Noyce, Austrália-Vietnã
Um cínico carregando sempre uma mala, Graham Greene percorreu o mundo em busca da perfídia humana. Ele encontrou a abundancia no Vietnã, no começo dos anos 50, onde americanos e europeus se disputavam a tapas o privilégio de dirigir e arruinar esse lindo país. Ao transpor o livro deste grande escritor para a tela, Noyce mostra-se atento para todas as nuances - assim como é Michael Caine, um vingador aborrecido que defende o seu direito a ficar com uma linda amante em Saigon.