98 Telinha e seus gatinhos

no dia que eu me zangar
mato voce de carinho

Ze´ Limeira

9.8.02

queria muito escrever no blog do meu pai neste domingo, mas vai hoje, vai agora, embora onde ele está não exista tempo nem espaço

pai,

tua menina tem 31 anos e não casou na igreja. eu sei que isso iria fazer você deixar de falar comigo por no mínimo uns dois anos, mas você não iria deixar de me amar. tua menina não fez concurso público e trabalha numa locadora de vídeo ganhando uma miséria e se divertindo um pouco, se preocupando também. e tua menina não vai ter um filho chamado geraldo neto, me desculpa. tua menina é cheia de defeitos e cheia de amor. e se o senhor visse que tenho alguns cabelos brancos, pai, qual seria a sua reação antes de me mandar pintar rapidinho?
pai, sinto falta da sua barriga para deitar a cabeça, de fazer cafuné e aprender as músicas que o senhor gostava, só para cantar quando você pedisse.
pai, não sei dirigir, não fiz direito e, acredite, ainda não sei andar de salto sem parecer uma pata. não uso roupas clássicas, continuo torcendo pelo náutico e sinto uma saudade imensa das comidas que mamãe fazia para lhe agradar: cozidos, peixadas, churrascos, sorvetes. nada mais disso foi cozinhado lá em casa depois que você morreu.
coisas bobas me lembram você. tento passar a saudade transferindo figuras paternas, mas dou com os burros n´água, solenemente. você é insubstituível, pai.
que orgulho você teria das suas netas, pai. Aninha e Clara são encantadoras. eu fico muito revoltada não só pq perdi você aos 17 anos, mas pq elas perderam um avô maravilhoso. dava para ver no seu desajeitamento com elas, bebezinhas, no colo. você tinha tanto amor para dar e receber, e foi embora tão cedo e tão definitivamente em duas mortes... a primeira da personalidade, a segunda do corpo. naquele 15 de novembro o que foi embora foi só uma casca, magrelinha e frágil, de um homem risonho, lutador e teimoso.
ah, pai, sinto falta até dos seus defeitos. e dei vexame uma vez quando chorei feito criança, num bar, quando tocaram "naquela mesa".
pai, eu te amo muito, e te disse isso quando você podia me dizer que me amava também. muito ficou por aprender, pai, mas esse amor responde tudo.

tua menina caçula,

telinha