98 Telinha e seus gatinhos

no dia que eu me zangar
mato voce de carinho

Ze´ Limeira

15.11.01

Outra Lygia

Junto com a Fagundes Telles e a do Tom Jobim, Lygia Bojunga Nunes faz a minha santíssima trindade de Lygias - e por causa disso, eu quis, durante muito tempo, dar o nome de Lygia para a filha que um dia eu vou ter.

Lygia Bojunga Nunes é uma escritora infanto-juvenil que vai muito além do que se acostumou esperar de gente que escreve para crianças e jovens. Lygia escreve para quem pensa.

Eu tinha, com muito orgulho, toda a bibliografia dela, que dei para Clara, ao casar e mudar para o Rio. Já recomendei "A Bolsa Amarela" para muita gente querida. A Bolsa que fala que a vida é muito diferente quando a gente tem amigo. Que também fala dos pensamentos costurados na cabeça da gente...

Mas sabe pq eu estou escrevendo isso? É que a ilustração aí embaixo me lembrou do "Sofá Estampado", que era amarelo bem clarinho todo salpicado de flor. Nesse livro eu conheci o tatu Vítor, que também gostava de Cecília Meireles e que foi embora de casa pq não queria vender carapaça como o pai dele, e que acabou caindo nas garras publicitárias da hipopótama Dona Popô. Acho que Lygia não gosta muito de publicitários.

Mas tem "Corda Bamba" - ô livro bonito! ô livro doloridamente bonito! - sobre uma menina, seus pais que morreram no circo e a tentativa de uma vida com a avó; e também tem "Angélica", que é uma cegonha que tem um amigo Porto, um porco envergonhado que - agora - me lembra o George do Seinfeld.

E tem tanta coisa mais... "A Casa da Madrinha", que é longe, nunca chega - a aventura é viajar e não chegar. Tem "Meu Amigo, o Pintor" - que fala de morte para as crianças - morte "só", não, suicídio. Pense na delicadeza necessária para escrever sobre o tema.

E tem "O Abraço". Eu penso na força dessa história tão forte, tão forte que prende a gente dentro dela e faz ter medo de virar a página, medo que é vencido pela urgência de saber o que vai acontecer. É uma sedução malvada que faz a gente ir junto com a personagem que caminha para um encontro que a gente que lê faria tudo para evitar.

Morro de saudade dos meus livros, rabiscados por mim e por muitos amigos (Marque o que gostar mais, eu pedia. Não se acanhe, escreva, rabisque, fique à vontade. E assim encontrei frases lindas que haviam passado desapercebidas).

Morro de saudade, mas sei que eles estão no lugar certo.

Um dia escrevi para ela, que me mandou um postal de Londres, onde estava morando (será que ainda mora lá?). Ela me disse que ficou muito feliz de ver os personagens dela vivendo em Pernambuco. Guardei tão bem guardado esse tesouro, que nunca mais achei.