Herbert Vianna
Vi o menino no fantástico, tocando um violãozinho desse tamainho. Vivo, desafinado como sempre, olho brilhando. Foi estranho e foi bom. Quando aconteceu o acidente, só esperava a notícia da morte dele. No máximo, uma vida como a do meu pai, sobre uma cama, num mundo à parte, se desvanecendo.
Pois o menino tem tanta força e tantas condições que o ajudaram que agora lembra das músicas e toca violão e fala de esperança e pede "Deus me abençõe". Pois o menino tem três filhos que precisam dele, e ele tem mais é que viver. E viver bonito, cheio de energia. Cheio de realizações.
Não é mais o mesmo, nem pode ser. Ele viu a cara da morte, tem cicatrizes na careca, até aquela baixa no crânio que é característica de cirurgia cerebral. Mas ele tá aí, tão lindo, mais do que nunca. E eu fico emocionada com a capacidade humana de se refazer. De um neurônio se ligar a outro e criar novas conexões, desmentindo as antigas certezas de que não haveria recuperação para essas lesões.
Meu olho se enche d'água, me pergunto se fosse hoje. Se fosse hoje, meu pai poderia pedir água?
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