98 Telinha e seus gatinhos

no dia que eu me zangar
mato voce de carinho

Ze´ Limeira

5.7.04

Do dia em que Ariano Suassuna deu uma surra no bardo.

Lá pelos anos 50, Ariano Suassuna comprou um cordel que adaptava a huistória de Romeu e Julieta pro sertão nordestino. Ele adaptou o cordel e aí nasceu a peça "A História do amor de Romeu e Julieta". Eu vi uma encenação no Teatro Armorial, em 91, com uma trupe dirigida pelo mestre Ariano, inclusive com Aramis Trindade fazendo uma impressionante versão do autor narrando a história.
E as duas vezes que eu vi, chorei de morder o nó do dedo para não dar vexame. E graças à professora Clotilde Tavares, que eu conheci na comunidade Ariano Suassuna, do Orkut (tá vendo, Gil? prá uma coisa aquilo serviu!) tenho o privilégio de copiar aqui a coisa mais linda que eu já li em todos os tempos: o momento em que Ariano ganha de William Shakespeare em poesia.

É a noite de núpcias de Romeu e Julieta.


Romeu:
Eu tirei minha gravata,
Ela tirou o vestido.
Eu, o cinto com revólver,
Ela, seus quatro corpinhos.
As anáguas engomadas
Soavam nos meus ouvidos
Como um tecido de seda
Por vinte facas rompido.
Eu toquei seus belos peitos
Que estavam adormecidos,
E eles se ergueram, de súbito,
Como ramos de jacinto.
Naquela noite eu passei
Pelo melhor dos caminhos,
Montado em potrinha branca,
Mas sem sela e sem estribos.
Suas coxas me escapavam,
Como Peixes surpreendidos,
Metade cheias de fogo,
Metade cheias de frio.

Julieta:
Ele tirou a gravata,
Eu tirei o meu vestido.
Ele, o cinto, com revólver,
E eu, meus quatro corpinhos.
As anáguas engomadas
Soavam nos meus ouvidos
Como um tecido de seda
Por vinte facas rompido.
Ele tocou nos meus seios,
Que estavam adormecidos,
E eles se ergueram de súbito,
Como ramos de jacinto.
Naquela noite passeei
Pelo melhor dos caminhos,
Montada por bravo ginete,
Mas sem sela e sem estribos.
Minhas coxas lhe escapavam,
Como peixes surpreendidos,
Metade cheias de fogo,
Metade mortas de frio.