98 Telinha e seus gatinhos

no dia que eu me zangar
mato voce de carinho

Ze´ Limeira

11.8.03

dedicado às motherns e suas crianças


Os porquês das crianças na universidade

Silvia Bittencourt
free-lance para a Folha de S.Paulo, de Heidelberg (Alemanha)

Apesar de acostumada a platéias de alto nível, a bióloga Christiane Nüsslein-Volhard, Prêmio Nobel de Medicina em 1995, penou na aula que deu no final da tarde de 29 de abril na Universidade de Tübingen, no sul da Alemanha. Na ocasião, essa famosa cientista alemã teve de dar uma palestra para centenas de crianças e adolescentes —com idades entre 7 e 14 anos— sobre uma das mais polêmicas questões do momento: por que não se pode fazer clonagem humana?

A aula de Nüsslein-Volhard abriu a segunda edição da chamada Universidade Infantil ("Kinderuni"), um projeto promovido pela conceituada Universidade de Tübingen e pelo jornal local "Schwäbisches Tagblatt".

Primeiro do tipo no país, o projeto prevê, a cada edição anual, um bloco de oito aulas, ministradas por professores renomados de Tübingen, sobre os mais variados temas. As aulas respondem, da forma mais didática possível, a perguntas típicas de crianças.

A arqueóloga Bettina Baronesse von Freytag, no mês passado, deu uma aula que respondia à pergunta: "Por que as estátuas gregas estão sempre nuas?". Um jurista falou, neste mês, sobre os porquês de os adultos "poderem" mais que as crianças. E várias outras perguntas, respondidas por especialistas, são os temas dos seminários: "Por que as plantas crescem?", "Por que nós sonhamos?", "Por que as estrelas não caem do céu?", "Por que eu sou eu?".

Segundo uma das idealizadoras da Universidade Infantil, a jornalista Ulla Steuernagel, de início não havia nenhum grande conceito pedagógico por trás do projeto. "Queríamos apenas juntar grandes especialistas (os professores) com grandes questionadores (as crianças)", afirmou à Folha.

A primeira edição da Universidade Infantil, no ano passado, foi um sucesso, com o auditório da Universidade de Tübingen lotando a cada aula e reunindo, no final, mais de 5.000 crianças. "Sabíamos que as crianças eram curiosas. Mas o resultado acabou nos surpreendendo", disse Steuernagel.

Realizadas às terças-feiras à tarde, as aulas duram 45 minutos e reúnem, em média, de 600 a 800 crianças por mês. A participação é gratuita e aberta a qualquer aluno do ensino fundamental, não exigindo inscrições.

Adultos só entram se estiverem acompanhando crianças e não têm direito a um assento —só podem ficar em pé, nos cantos do auditório.

No final de cada série de aulas, as crianças votam no melhor professor, a quem concedem um prêmio. No ano passado, o premiado foi o paleontólogo Volker Mosbrugger, que deu uma aula sobre por que os dinossauros desapareceram.

Ainda há dúvidas sobre quanto as crianças aprendem nas aulas da "Kinderuni". Mas um estudo sobre o assunto, que já está sendo elaborado por dois educadores da Universidade de Tübingen, deve sair até o final do ano.

Segundo Steuernagel, que edita a seção voltada para jovens no "Schwäbisches Blatt", a captação de informações ocorre de forma variada devido à diferença de idade entre as crianças que participam da Universidade Infantil. "Algumas conseguem, no final, fazer um resumo, outras guardam apenas palavras-chaves, mas que aparecerão em outras ocasiões. É assim que funciona a ampliação do conhecimento", afirma.

Diante do desconhecimento dos jovens alemães sobre o que é uma universidade, os realizadores da "Kinderuni" são unânimes em afirmar que uma das grandes vantagens do projeto é colocar as crianças, desde cedo, em contato com o clima universitário. Além de assistirem às aulas, os alunos ganham uma carteira de estudante, que lhes permite comer na cantina da universidade enquanto dura a "Kinderuni", ou seja, durante as oito semanas que vão de abril a junho.

A idéia de unir professores universitários e alunos do ensino fundamental numa sala de aula repercutiu em toda a Alemanha e em outros países europeus. Com a colaboração da Türbingen, em março deste ano, alguns matemáticos da universidade deram aulas para jovens italianos do colégio Luigi Settembrini, em Roma. E um projeto está sendo elaborado para fazer a Universidade Infantil acontecer na Basiléia, na Suíça. Afinal, pergunta de criança merece resposta séria.


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