então as pessoas morrem.
morreu meu primo, hoje, aos 45 anos de idade. marquinho teve falta de oxigenação no cérebro ao nascer, os médicos não davam muito tempo de vida para ele, e ele morreu hoje, aos 45 anos, sem ter vivido. morreu a mãe dele, morreu o pai, minha tia cuidou dele todos estes anos, cuidado e carinho para um menino magrinho, pele e osso, só, amarelinho cor de fórmica.
meu tio era casado com a primeira mulher dele, prima em primeiro grau. teve oito filhos, seis com saúde, o marquinho e a ione, que tem problemas mentais e mora em alguma instituição que eu não sei qual é.
depois que a mulher dele morreu, deixando filhos pequenos, ele casou de novo com minha tia, irmã da minha mãe. e, quando meu tio sentiu que ia morrer, pediu para minha tia cuidar do marquinho e da ione. meu tio morreu em 77. os seis irmãos do marquinho e da ione não se preocupavam com eles. não iam (não vão) visitar, não telefonam para saber da saúde.
e eu estou triste. marquinho era, como disse um médico que foi visitar, um mistério. como uma criatura vive tantos anos só se alimentando de papa de aveia e banana machucada, sem beber água.
não, ninguém levou marquinho a fisioterapeuta ou neurologista. isso não tinha lá nos cafundós de alagoas no meio do século passado, caramba. era a vontade de deus e ficou sendo desde então.
marquino era como um bebê grande. mal se mexia, grunhia alguma coisa, gostava de bater a mão na lateral do berço grande onde dormia.
quando eu era menina eu tinha medo dele. depois passei a ter pena, depois um grande carinho.
eu sei que ele está melhor. um inocente, como dizia minha avó. se tem céu, ele está lá, junto com os pais.
eu disse para minha tia dormir cedo, com a sensação de missão cumprida.
porque não foi por acaso que ela, que não pôde ter filhos, teve esse para cuidar.
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