98 Telinha e seus gatinhos

no dia que eu me zangar
mato voce de carinho

Ze´ Limeira

28.1.02

ontem foi dia de ver curtas na cobal.

Pois é: do outro lado da rua, uma mostra de curta-metragens apoiadas pela locadora Cavideo, e nessa mostra tava passando o curta Cavé, Um Passado Brilhante, Um Futuro Radiante, de Lúcia Arruda, amiga minha, sobre a Casa Cavé, a confeitaria mais antiga do Rio - mais até que a Confeitaria Colombo - fundada em 1890 pelo monsieur Charles Auguste Cavé. Era pequena e linda, com mármores, lustres e vitrais franceses, pinturas nas paredes e mosaicos em art déco... e fechou em 8 de dezembro de 2000, e eu não conheci.

Casa Cavé




Assim que soube que a Cavé ia fechar, Lúcia, que além de terapeuta é roterista e produtora do filme, escritora, poeta e o diabo a quatro, mais o marido dela, Miguel, fizeram um vídeo sobre ela. Um trabalho na base do amor à confeitaria, que ambos freqüentavam desde a juventude, boa vontade dos entrevistados (gente famosa tipo Chico Anysio e Arnaldo Niskier), pouca grana - a Cavideo bancou muita coisa dos três vídeos apresentados - e corrida contra o tempo, pq queriam filmar a Cavé ainda funcionando.

Infelizmente muitas histórias tiveram que ficar de fora da meia hora de duração, mas foi lindinho ver uma senhora de cabelos brancos, a filha mais nova do monsieur Cavé, contando que quando ela tinha cinco dias de nascida o estabelecimento pegou fogo e a mãe dela fugiu com ela pelo telhado, o que, depois, fez que a menininha ganhasse o apelido de "gata dos telhados". Mostraram cenas da cozinha, bolos, doces - e eu, que não gosto disso, senti falta de ver uma coisa que foi elogiada por quase todos que deram depoimentos: os sorvetes servidos em fôrmas - e formas - diferentes, que hoje não existem mais. E nos áureos tempos da Cavé, havia em torno de 1.800 doces e salgados expostos nas vitrines!

O fechamento da Cavé foi resultado de um jogo de empurra: devido ao Projeto Corredor Cultural, criado em 1981 e que tem como principal característica preservar os ambientes urbanos e paisagísticos que representam a memória do Rio Antigo (desde os Arcos da Lapa ao Campo de Santana), tombaram o prédio mas não deram condições para que fossem feitas adaptações necessárias ao funcionamento da doceria, que acabou morrendo pela exaustão do seu proprietário, o português Samuel Cartaxo Felipe, que não suportava mais lidar com advogados e as peripécias do INEPAC (Instituto Estadual do Patrimônio Cultural), que ao invés de ajudar, atrapalhou muito.

Também passaram dois outros vídeos, Ausência (fraco, fraco... tanto de qualidade de som/imagem à interpretação cigano igor dos atores) e o maravilhoso Carolina - Maçãs Crocantes , inteligente, engraçado e cheio de encontros e desencontros e coincidências... pessoal afinado, diálogos bem dirigidos, imagem/som muito bons, apesar do caos que foi a filmagem (nas palavras do diretor do vídeo, Fontenelle, ele teve a idéia da história depois que a Carolina "da vida real" terminou o namoro com ele. Então do ano passado para cá, ele foi espancado durante o carnaval , foi assaltado e perdeu os documentos, roubaram o carro e no momento da apresentação tava com dengue e o pé torcido, mas disse isso com tanto bom humor que mais pareceu uma comédia de erros do que um drama da vida real :)

Recomendo o documentário da Cavé (lê-se Cavê) especialmente para vc, Gil, que ama tanto esta cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. O Carolina, maçãs crocantes, recomendo para todo mundo. Tem Beatles, amor eterno, desencontros, um pingüim voador e muito sushi :)


Ah, e tem mais uma coisa: depois do vídeo teve mesa de doces da Cavé (o proprietário chamou seus doceiros especialmente para o evento)... imaginem que delícia... eu experimentei o pastel de belém, que lembra um pouco o pastel de nata, mas com massa folhada. interessante... só não fiquei mais pq meu celular arriou a bateria e, pela hora, fred não foi e devia estar se preocupando... eu achei que só ia passar uns 40 minutos por lá, saí de casa pouco mais de 6 e meia e já eram quase 10 da noite.