Meu passado me condena
Para Gil, Aninha e Jacque
Menudo, pois é. Eu tinha 14/15 anos. Quem não viveu não sabe e pena que vídeo cassete era coisa de rico naquele tempo. Menudo vendia de um tudo. De álbum de figurinha a iogurte. O Menudo foi o que alavancou a carreira de Gugu (Viva a Noite! Viva! Viva! Viva!), salvou a Contigo de fechar: com a grana das adolescentes desesperadas pelos meninos, até o papel da revista subiu de qualidade, deixou de ser papel-jornal.
Meu Deus, como eu me diverti naquele tempo, e as minhas limitações eram imensas, pq papai era muito rigoroso. Inclusive com dinheiro.
Quando eu me lembro que eu atravessei a rua do aeroporto sem ver se vinha carro, só para ir atrás do microônibus dos meninos, me dá a certeza de que tenho anjo da guarda, e dos bons.
Eu e duas amigas fundamos um fã clube, Juventud. E tinha gente até de São Paulo que participava. Isso num tempo sem internet, graças à velha divulgação boca-a-boca. Devo ter alguns fanzines que a gente fazia guardados em algum canto. Foi ali que eu realmente comecei a escrever pro povo ler. Que Napster que nada... no nosso meio, fitas piratas voavam de mão em mão. E o meu sonho de 15 anos era ir para a Menudities Studio, loja do grupo, que ficava em NY City.
Meu preferido? Que é isso... o grupo todo era o meu harém. Eu tinha um porta retrato q, dependendo do ânimo do dia, mudava de menudo. Mas os preferidos sempre foram Charlie e Robby, Ray vinha em terceiro e Ricky Martin era um bebê. Sentimentos por ele, só maternais.
Um dia eu conheci Robby, depois daquele zuê todo, quando ele renegou o passado e passou a ser vocal de uma banda "séria". Drogado, prostituído, acabado, a antítese daquele moreno saleroso, caliente e gostoso. Quase não falei com ele, de medo de não sair nada que prestasse. Meu inglês e meu espanhol foram pelo ralo na hora, mas eu fui lá e ele foi educado comigo (nossa, até hoje me emociono). A única coisa que passava na minha cabeça era "ele existe, ele existe, ele existe". Se demorei cinco minutos foi muito, mas até hoje parece um tempão. Não lembro muito do que eu disse, só escapou um god bless you no fim e o olhar dele meio rindo. Acho que fazia muito tempo q alguém dizia isso para ele.
Até hoje eu brinco, dizendo que, por uma praga, Fred, um cara de cultura musical invejável, que conheceu meio mundo aqui no rio quando as bandas que hoje são sucesso tavam no comecinho, um cara que que foi gótico e foi dj do crepúsculo de cubatão (boate histórica dos anos 80), isso tudo e mais um pouco, por uma praga Fred casou com uma menudete. Inimaginável. Coisas que só dizendo mesmo que estava escrito.
Outro dia eu expliquei a Fred a importância do Menudo para a auto-estima dos portorriquenhos dos EUA. Que eles lotavam o Carnegie Hall assim, num estalar de dedos. Que eram a primeira banda latina a tocar em rádios "normais" de lá. Que eles tinham um programa coast-to-coast, numa rede latina, é verdade, mas ainda assim atingiam toda a América. Que eram os primeiros a mostrar que os latinos poderiam ser um sucesso e atingir a parte branca e consumista daquele país. Na rabeira veio o New Kids on The Block (New Shit on the Block para mim) e toda essa rafaméia de hoje, o que não é um elogio . Mas, que San Juan perdoe os erros, essa foi uma magnífica idéia de Edgardo Diaz, aquele maldito fdp.
Claro que a qualidade das músicas é pífia, mas ninguém pode negar os dias de menudomania que esse país viveu, lá no século passado. Foi o mais perto que chegamos dos Beatles, antes de Paulo Ricardo declarar na Veja que, para acabar com o Menudo, só tomando o lugar dele e vender o RPM para a mídia. E Renato Russo disse na Bizz: "Eu gosto de Menudo, pô" e mais de 10 anos depois gravou uma das mais fraquinhas do grupo, "Hoje a Noite Não Tem Luar", versão de "En San Juan Me Enamoré".
Eu tenho álbuns de fotos deles. Tenho discos em vinil e fitas cassete. Tenho pôsteres com pedaço de tinta da parede do meu quarto. E tenho uma história bonita para contar para vocês, de uns meninos que saíram duma ilha mágica do caribe e se tatuaram no meu coração.
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